Desde quando foi eleito senador pela primeira vez, em 1994, com 235,3 mil votos, Renan Calheiros (MDB) transita com maestria no poder. Aliado dos presidentes Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma, o senador alagoano já esteve muitas vezes entre o céu e o inferno. Mas uma vez Renan enfrenta uma prova de fogo, pois foi rotulado como “a velha política” e por isso teve seu nome rejeitado para presidir o Senado.
Apesar de ter a maior bancada no Senado, o MDB de Renan Calheiros conseguiu apenas indicar um nome para a Mesa Diretora da Casa. A legenda, que sempre ocupou cadeiras importantes, não vai ocupar nenhuma das duas vice-presidências.
Na reunião com líderes de partidos, o senador Eduardo Braga (MDB-AM), tentou argumentar que a Casa costuma seguir a proporcionalidade, ou seja, os maiores partidos escolhem primeiro as posições que vão ocupar, Mas enfraquecido pela derrota na disputa de Renan pela presidência, o senador optou por não polemizar.
“A proporcionalidade é um critério muito importante nas horas mais íngremes de um Parlamento. Se você não tem critério, acaba gerando impasses. Mas, obviamente, a gente reconhece que há uma circunstância política. Houve uma disputa, nós não a vencemos e eles estão colocando a Segunda Secretaria para o MDB”, afirmou Eduardo Braga.
A primeira vice-presidência ficou com PSDB, Antonio Anastasia (MG) ocupa o cargo. A segunda vice vai para o Podemos, que fica com Lasier Martins (RS).
A Primeira Secretaria fica com o PSD. A Terceira será do PSL, que ficou Flávio Bolsonaro (RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro e alvo de investigação por causa de movimentações financeiras atípicas e suspeitas sobre funcionários de seu gabinete quando era deputado estadual no Rio de Janeiro.
De olho na CCJ
Ao que tudo indica, Renan preferiu jogar a toalha na discussão da Mesa, para jogar toda pressão na disputa da presidência da Comissão de Constituição e Justiça, a CCJ, a mais importante da Casa.
O MDB reivindica a presidência da comissão por ter a maior bancada, com 13 dos 81 senadores. Mas o grupo contrário a Renan Calheiros aceita apenas se o nome indicado for o de Simone Tebet (MDB-MS), que enfrentou o senador alagoano na disputa interna e depois no plenário pela presidência do Senado, o que acabou rachando a bancada. Simone declarou apoio ao Davi Alcolumbre, que acabou sendo eleito presidente.
Oposição
Após a derrota de Renan Calheiros, patrocinada por Onyx Lorenzoni, ministro-chefe da Casa Civil, o emedebista se cacifa para ser o principal opositor do governo Bolsonaro. Para ir de encontro ao governo, Renan terá que se reinventar e apontar as problemáticas das “pautas bombas” que serão impostas por Bolsonaro.
Na atual conjuntura, parece que ser oposição começa a ser um bom negócio para o novo Renan, como ele se intitulou. Dar a voltar por cima é uma das características de Renan ao longo de sua vida pública.
Sobre a eleição
Davi Alcolumbre (DEM-AP), aos 41 anos de idade, é o novo presidente do Senado Federal. Ele foi eleito com 42 votos, ainda no primeiro turno, em uma eleição que se arrastou por dois dias e foi marcada por impasses, interferência do Judiciário, bate-bocas e pela desistência de Renan Calheiros (MDB-AL) já durante o andamento da eleição para a presidência do Senado.
Alçado do baixo clero e quase anonimato diretamente à presidência do Senado, Alcolumbre teve apoio silencioso de integrantes da equipe do governo Jair Bolsonaro (PSL) e conseguiu concentrar os votos daqueles que tentavam evitar o retorno de Renan. Sua vitória põe o partido Democratas à frente das duas casas que compõem o Congresso, uma vez que Rodrigo Maia (DEM-RJ) foi reeleito pelos deputados.
O democrata superou quatro adversários na votação desta tarde: Fernando Collor (PROS-AL), que recebeu 42 votos; Angelo Coronel (PSD-BA), que teve 8; Esperidião Amin (PP-SC), escolhido por 13 colegas; e Reguffe (Sem partido-DF), que ficou com 6 votos. Renan, antes de desistir, somou 5 votos.
Em seu discurso após a vitória, Davi Alcolumbre agradeceu aos senadores Major Olímpio (PSL-SP), Alvaro Dias (PODE-PR) e Simone Tebet (MDB-MS) – que abriram mão da disputa em nome de uma aliança anti-Renan –, e também a Tasso Jereissati (PSDB-CE), que costurou apoios ao democrata.
“Assumo o compromisso com o Senado e com o Brasil. Eu quero dividir essa responsabilidade com os 80 senadores que compõem esta casa”, declarou Alcolumbre, acenando também ao próprio Renan Calheiros. “O senhor terá o mesmo tratamento que todos os partidos devem ter.
Redação