Maceió Verão 2018: ganância e mau planejamento afundam o evento

A versão 2018 do Maceió Verão, ao que parece, não vai deixar saudades. Uma série de erros fizeram com que as duas primeiras noites do evento (6 e 13/1, respectivamente) fossem um festival de segregação e terror, sobretudo, a primeira noite, onde a selvageria tomou conta do espaço.

Fato é que, mesmo com as alterações realizadas entre a primeira e segunda noites, vários problemas persistiram, principalmente, no que se refere à violência. A verdade é que as mudanças podem até minimizar os problemas, mas não têm o condão de resolvê-los, uma vez que as falhas têm como origem o formato, a ideia que mudou completamente em relação às versões anteriores. O que se vê na versão 2018 é a mercantilização do projeto e privatização do espaço público beneficiando empresas e pessoas do oculto mundo dos eventos realizados pelo município de Maceió.

Camarotes e fechamento metálico imitando um curral espremem as vítimas da exploração mercadológica e pobreza cultural. Em meio ao ‘octógono coletivo’ uma área nobre chamada ‘front stage’ é destinada a quem tem dinheiro e paga para não se misturar com a ‘plebe’, que insiste em participar de uma festa onde foi convidada apenas por educação, mas, lá no íntimo, os anfitriões não queriam que estivessem ali.

Repercussão nas redes sociais

Não há como negar: foi um bombardeio de críticas e insatisfações imediatamente à noite de abertura do evento. “Maceió verão = Maceió Terror.” Com essa manchete o primeiro dia do festival se propagou nas redes sociais. A revolta expressada via Facebook, Instagram, WhatsApp… demonstraram a não aprovação do formato 2018.

‘Mudança inexplicável’

Um dos principais pontos de indignação é quanto à mudança do local e formato do evento. Diz o dito popular que ‘em time que tá ganhando não se mexe’. Parece que a prefeitura de Maceió e os organizadores do festival não compactuam com essa máxima e, assim, mudaram abruptamente, não só o local, mas, sobretudo, a concepção do evento, que trazia um ambiente aberto, democrático e espaçoso, com atrações musicais não do tipo ‘sai do chão e mexe a bundinha’, mas sim, emoção, vibração e qualidade artística.

Fato estranho

A Branco Promoções e Eventos musical LTDA, empresa pernambucana, ganhou a licitação para produzir o Maceió Verão 2018. Fato estranho é que seis meses antes do resultado da referida licitação, no dia 5 de maio de 2017, a citada empresa “vazou” em sua página oficial no Facebook as atrações de janeiro deste ano (2018), incluindo, inclusive, as datas das apresentações. Esta informação foi antecipada por um portal local. A mencionada empresa de eventos é investigada pelo

Ministério Público de Pernambuco e de Alagoas. Em Maceió o edital foi publicado em 27 de outubro de 2017, um mês depois, em 29 de novembro, a empresa já foi anunciada.

A prefeitura de Maceió disse apenas que reitera a lisura e probidade no processo licitatório do evento; a Branco Promoções, por sua vez, disse que a Prefeitura de Maceió é quem responde pelo processo licitatório.

Atrações musicais

Não se trata de discriminação ou apenas preferência por estilo musical A ou B, não é isso. Contudo, inegavelmente o estilo musical tem interferência direta no clima que paira em qualquer evento. Existe sim um nexo de causalidade entre a música ofertada e o comportamento do público presente. A maior prova disso é o próprio Maceió Verão, que nas edições anteriores, onde prevaleceu o estilo musical menos ‘agitado’, cerca de 30 mil pessoas por noite conviveram civilizadamente e nenhum episódio de violência foi vivenciado.

Mau planejamento

A maior prova do mau planejamento ou do não planejamento foi a imediata necessidade de mudança do primeiro para o segundo dia do evento. Fato é que poderia ter acontecido algo muito pior, uma verdadeira tragédia. Felizmente não ocorreu. É preciso um planejamento detalhado para realização de eventos dessa proporção. Não basta escolher um local e montar uma estrutura. A reportagem da Folha de Alagoas esteve no local e conversou com pessoas do público, as quais se diziam tensas e arrependidas de terem ido, pois temiam pela integridade física delas e de suas famílias. Vídeos que ainda circulam nas redes sociais mostram um pouco das cenas lamentáveis e da selvageria que foi os primeiros dias do festival.

Falha na segurança

Outro ponto alvo de duras críticas, que também é reflexo da falta de um planejamento eficaz, foi à precariedade na segurança. Poucos homens prestando esse serviço foram vistos dentro da ‘arena’ no primeiro dia da festa. Pancadaria, tumultos e brigas lamentavelmente fizeram parte do cenário indesejado do evento. Não por acaso, segundo a organização do festival, foi reforçado o número de homens da segurança para o segundo dia.

Redação Jornal Folha de Alagoas

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