Torcer o tornozelo durante a prática esportiva é muito comum. Geralmente durante numa entorse ocorre o estiramento dos ligamentos ao redor do tornozelo, o que pode ser muito doloroso, podendo até chegar a ruptura dos mesmos. No caso do atacante Neymar – que fissurou o quinto metatarso do pé direito durante a vitória do Paris Saint-Germain sobre o Olympique de Marselha por 3 a 0, no domingo – todos acharam que a princípio seria um entorse simples, principalmente porque os exames iniciais não mostraram nada ligamentar. Mas devido à dor exacerbada, evidenciou-se que a energia da torção passou pelos ligamentos e foi tracionado o osso por um tendão, levando à fratura.
O jogador brasileiro passará por cirurgia para colocação de um pino no pé. O tempo previsto para a recuperação é de dois meses, o que o possibilita voltar aos gramados apenas em maio, um mês antes da Copa do Mundo – a estreia do Brasil é no dia 17 de junho.
Como acontece o mecanismo de lesão
Embora seja comumente associada aos jogadores de futebol que atuam na grama, a lesão também afeta atletas de outros esportes, basta o pé ficar fixo e o corpo girar. Esta condição pode surgir ao prender pé através do calçado como nas chuteiras com travas, ou mesmo com o tênis numa quadra onde o corpo gira pra mudar de direção ou fazer uma mudança de rota e acaba causando a torção.
Essa lesão ocorre ao redor geralmente do tornozelo, que funciona principalmente como uma dobradiça para permitir movimentos para cima e para baixo no pé e em menor amplitude, para dentro e para fora. O que acontece nas exceções é a energia ser tão grande que os ligamentos conseguem se esticar sem romper, mas o tendão não. Aí ele puxa literalmente o osso que está iserido no tendão.
A lesão também poderá ocorrer dependendo da energia colocada com pés, correndo de forma repetitiva ao longo do tempo ou da força súbita por um trauma direto (exemplo: um pisão do adversário). Normalmente, quando o dedo do pé fica preso, a lesão é súbita. Ela é mais comumente vista em atletas que jogam em superfícies artificiais, que são mais difíceis de escorregar do que as superfícies de grama, onde grampos ou travas de chuteiras são mais propensos a prender. Também pode acontecer em superfícies rígidas, especialmente se o tênis usado não fornecer suporte adequado para o pé.
?Quais são os sintomas?
Os sintomas mais comuns incluem dor, inchaço e movimento articular limitado na base do quinto metatarso do pé. Os sintomas desenvolvem-se lenta e gradualmente, piorando com o tempo se a lesão for repetitiva. Se for causado por um movimento forte e súbito, a lesão pode ser dolorosa imediatamente e piorar em 24 horas. Às vezes, quando ocorre a lesão, um estalo pode ser sentido. Normalmente, todo o conjunto é envolvido, e o movimento do dedo do pé é limitado. Pode cursar com roxidão e edema (inchaço) imediato ou crescente nas 24h seguintes.
Qual é o quinto metatarsal?
Os ossos metatarsianos são os ossos longos no meio do pé. Cada osso metatarsiano tem uma base, um eixo, um pescoço e uma cabeça. O quinto metatarsiano é o último osso no exterior do pé, e a maioria das quebras do quinto metatarsiano ocorrem na base.
Quais sinais indicam que a cirurgia pode ser necessária?
A base do quinto metatarsiano é dividida em três zonas de fratura. As fraturas da zona 1 são fraturas de avulsão ou tração, que ocorrem na ponta da base do quinto metatarsiano. Essas fraturas são normalmente tratadas sem cirurgia usando uma ortese, bota ou sapato de sola dura. Essas fraturas tendem a curar dentro de seis a oito semanas.
As fraturas da zona 2 são tipicamente conhecidas como fraturas de Jones. Elas ocorrem na interseção entre a base e o eixo do quinto metatarsal . Essas fraturas são conhecidas por terem maior chance de não cicatrizar (não união). Eles também estão em risco de refratura mesmo após a cura. O tratamento cirúrgico é comumente realizado para essas fraturas.
As fraturas da zona 3 ocorrem ao longo do eixo do quinto metatarsiano. Estas são tipicamente fraturas de estresse em atletas. Longos tempos de cicatrização e risco de refratura podem ser razões para o reparo cirúrgico.
No caso de Neymar, muito provavelmente a decisão de operar nos faz pensar que estamos falando de uma zona 2 ou 3, e num jogador de milhões não podemos correr o risco de não consolidação.
Qual é o objetivo da cirurgia de fratura do quinto metatarso?
A maioria das cinco fraturas dos metatarsos são tratadas sem cirurgia. No entanto, certas situações podem exigir cirurgia:
– Fratura das zonas 2 e 3 na base do quinto metatarsal: indicação de cirurgia pode ser realizada para ajudar o osso a consolidar numa posição correta, e o atleta retornar para a função completa. A cirurgia pode reduzir o tempo necessário de imobilização e melhorar as chances de cura em comparação com o tratamento não cirúrgico. Além de começar a fisioterapia precocemente.
Quando se deve evitar a cirurgia?
A cirurgia não é indicada em uma fratura onde existe uma infecção ou tecido mole gravemente danificado. Ou quando o paciente decide tentar o tratamento conservador e até mesmo não tem indicação de cirurgia imediata, como diabéticos, idosos, por exemplo. Às vezes, a base do metatarso fratura em muitas partes. Quando isso acontece, seu cirurgião pode optar por fixar a fratura com uma placa em vez de um parafuso. Seu cirurgião também pode optar por remover parte do osso quebrado, em vez de tentar reconstrui-lo.
Detalhes gerais do procedimento
Existem várias opções e técnicas cirúrgicas para tratar fraturas do metatarso. Uma técnica comum na base do quinto metatarso é uma cirurgia percutânea (fechada), em que um parafuso é inserido no quinto metatarso (fixação do parafuso intramedular). As fraturas do eixo do metatarsal são tipicamente fixadas com uma placa e parafusos. Esses procedimentos podem ser realizados como um procedimento eletivo sob anestesia geral ou anestesia regional.
Técnicas específicas
A incisão cirúrgica para um parafuso intramedular é tipicamente de um ponto (1 cm) base do quinto metatarsiano. Através do raio-X usamos um guia para a colocação do parafuso. As roscas do parafuso cruzam o local da fratura e permitem que as extremidades sejam comprimidas. Se for necessário enxerto ósseo, como em uma fratura crônica que falhou no tratamento não-operatório, pode ser necessária uma incisão separada sobre a fratura para inserir o enxerto ósseo ou o substituto do enxerto ósseo.
Em quanto tempo é possível retornar ao esporte?
Nos primeiros sete a 14 dias após a cirurgia, você pode dar carga apenas no calcanhar, mas alguns cirurgiões não permitem que você pise até retirar os pontos, ou até terem segurança da consolidação. É utilizado uma bota (órtese) removível para iniciar a fisioterapia analgésica imediatamente. Os pacientes podem esperar retornar à atividade completa entre dois a três meses após uma fratura típica, mas varia muito de cada caso, pois o primeiro passo é a consolidação que ocorre de quatro a seis semanas, e depois disso o atleta deve voltar ao seu condicionamento físico para o esporte. Algumas fraturas podem requerer enxerto ósseo e têm recuperações mais longas. O parafuso não é geralmente removido, a menos que cause desconforto.
Complicações potenciais
Existem complicações relacionadas à cirurgia em geral. Elas incluem os riscos associados à anestesia, infecção, danos aos nervos e vasos sanguíneos e hemorragias ou coágulos sanguíneos. Mas obviamente são casos raros e de exceção. Algumas complicações podem resultar na necessidade de reabordagem ou revisão cirúrgica. A fratura metatarsiana pode não consolidar e se tornar uma não união. Outra complicação rara, mas séria é uma refratura após a fixação. Alguns pacientes podem estar em maior risco de cicatrização ou refratura devido à forma do pé. Um pé de alto arco (cavo) ou um calcanhar varo pode colocar pressão extra no quinto metatarsiano e afetar a cicatrização.
Se a opção for por uma bota Walker durante seis semanas, existem outros tratamentos que possam ajudar a acelerar a cura?
Há algumas evidências de que a estimulação óssea eletromagnética pode ser útil para aumentar as taxas de cicatrização e reduzir o tempo nas fraturas das zonas 1 e 2 da base do quinto metatarsiano. No entanto, é necessário mais evidência antes que essas terapias possam ser recomendadas a todos os pacientes com tais fraturas.
GE