Dezembro Vermelho: leia depoimento de jovem diagnosticado com HIV em Maceió

José Antônio (nome fictício) tem 21 anos, mas aparenta ter menos de 18. À espera, num corredor de um ambulatório, para saber se o resultado do teste rápido deu negativo ou positivo, o deixava com o olhar preocupado, repleto de dúvidas, incertezas e medos. Ele não parava quieto, agitando as mãos compulsivamente, de unhas roídas. Antes de entrar no consultório, o rapaz franzino, de estatura mediana, cabelos pretos, de textura cacheada e de comprimento médio, bebeu vários copos de água em vão, na tentativa de reverter à ansiedade. Passados alguns minutos, a psicóloga o chama para adentrar na sala, cuja enorme porta de madeira se abre.

Após a consulta, que durou cerca de meia hora, José sai como se um fardo do tamanho do mundo tivesse caído em seus ombros. O diagnóstico, por sua vez, apontava a presença do HIV no seu sangue. O primeiro momento – a descoberta – era de desespero. Frio na barriga. Sensação de incômodo. Porque, embora não mais signifique sinônimo de morte, o imaginário do jovem em torno do vírus ainda era repleto de sombras. José sentia como se uma nuvem negra e pesada começasse, aos poucos, a pairar sobre sua cabeça, carregada de interrogações e reticências. “Eu vou morrer?”, “Não vou mais namorar?”, “Vou perder muito peso?”, “Como será minha vida agora?”, “Vou desistir de viver…”, “Por que eu fiz isso?”.

Ele, no entanto, já suspeitava de que poderia ter contraído o vírus HIV, pelo fato de sempre ter transado sem camisinha. “Iniciei a minha vida sexual aos 10 anos, em encontros casuais que demoravam, no máximo, duas horas. Geralmente os homens que eu conhecia estavam na noite”, disse, acariciando os cachos que caíam em cascata, “pois nunca transei com preservativo, mesmo sabendo que eu poderia contrair o vírus a qualquer momento”.

Aquele imediatismo dos relacionamentos, onde muitas pessoas querem viver a vida intensamente – aproveitando cada dia como se fosse o último de suas vidas – e devido a isso, as etapas acabam sendo invertidas: primeiro se amam e, depois, se conhecem. “A sensação de ter descoberto ser soropositivo é, pra mim, de raiva e angústia. Mas vou continuar vivendo, não é?”, respondeu, em tom baixo, à sua própria interrogação, segurando o resultado do exame. Hoje, porém, com o diagnóstico de soropositividade para HIV, José acredita que vai ficar muito mais difícil o relacionamento com outros homens, uma vez que “a única coisa que as pessoas sabem sobre o HIV e a Aids é nos botar medo”.

Por meio do recurso terapêutico, contudo, o jovem vai conseguir com que o vírus fique sob controle. “Estou disposto a encarar o tratamento, mesmo sabendo que vão existir os efeitos colaterais”, disse. “Quanto ao uso da camisinha, vou começar a colocar no bolso e conversar com meus futuros parceiros sobre a importância desse método preventivo, pois, daqui pra frente, é a minha saúde e de outras pessoas que está em jogo”, completou, ainda confuso com o excesso de informação que tinha acabado de receber da psicóloga.

A partir de agora, José Antônio almeja reescrever sua história. Começar por um parágrafo de cada vez e deixar sua vida fluir, página por página. A cada dia, uma nova oportunidade. “As pessoas não precisam ter medo de fazer a testagem rápida. Muitas acabam desistindo por conta do resultado. Se eu não tivesse vindo pra cá, talvez nunca soubesse que estaria com o vírus no meu corpo. Não é fácil receber um diagnóstico como esse, mas vou precisar ser bastante corajoso pra enfrentar tudo que está por vir. Afinal, é assim que a vida funciona, não é?”.

Sesau

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