Advogado pede afastamento no Conseg de delegados acusados de tortura

O advogado Marcondes Ricardson Torres Costa encaminhou para o Conselho Estadual de Segurança Pública do Estado de Alagoas (Conseg) o pedido de afastamento dos delegados Fábio Costa, Thiago Prado e Cayo Rodrigues de suas funções. Segundo protocolo realizado por Marcondes Costa, sua cliente, a polícia civil Laryssa Manuela Magalhães da Silva foi presa em flagrante por ser acusada de integrar uma associação criminosa.

Marcondes contou que Laryssa Magalhães se apresentou de forma espontânea na sede da Divisão Especial de Investigações e Capturas (DEIC), mas chegando lá foi “vítima de um método inquisitorial e ameaçador”. O documento narra que tal modus operandi “maculou qualquer possibilidade de um depoimento fidedigno”.

A Polícia Civil diz que Laryssa Magalhães participava de extorsões juntos com outras pessoas na Feira do Rato, no bairro da Levada, em Maceió. E o prejuízo causado aos comerciantes já beirava os R$ 10 mil.

Assim como Laryssa, também foram presos Igor Felipe Silva dos Santos, de 30 anos, o policial militar Carlos Alberto Tenório Cavalcante Filho, o “Vaqueirinho”, de 28, João Batista Moura, de 39, conhecido pelo apelido de “João da Deic”.

Mais uma acusação

Em contato com a reportagem da Folha de Alagoas, o advogado Cledson Calazans contou que seu cliente, o senhor Juarez José da Silva, também foi vítima de tortura na DEIC. Juarez diz que levou pontapés, socos e um saco foi colocado em sua cabeça, onde ele chegou a desmaiar com falta de ar.

Juarez ia de carona para Arapiraca com João Batista Moura, o João da DEIC, seu conhecido, quando o carro de João foi interceptado pela polícia em Campo Alegre.

Juarez José da Silva foi levado preso e revelou que os delgados perguntavam o que ele tinha haver com o crime, mas continuou sem entender o que estava se passando, pois tinha pego apenas uma carona com João. Segundo ele, por não saber de nada as sessões de tortura perduraram.

O advogado Cledson Calazans formalizou ao Conseg o relato da prisão, a apreensão do telefone de Juarez José da Silva e as torturas praticadas pelos delegados.

Outras providências

O advogado Marcondes Ricardson Torres Costa enfatizou que levou o caso ao Ministério Público Estadual (MPE) e espera que as medidas cabíveis sejam adotadas, entretanto, afirmou que sabe do espírito do procurador-geral de Justiça, Alfredo Gaspar de Mendonça, em resguardar o direito da dignidade humana.

O documento que está no Conseg ainda traz: “O caso seja encaminhado à Polícia Federal para acompanhamento, haja vista a suposta participação de delegados em crimes de tamanha repugnância”.

O que diz os delegados

Como manda a prática do bom jornalismo, a reportagem da Folha de Alagoas esteve reunida com os três delgados citados, Fábio Costa, Thiago Prado e Cayo Rodrigues, que negaram veementemente qualquer tipo de tortura na sede da Deic. Os agentes de segurança colocaram que todos os depoimentos são gravados e que não há espaço para tal prática. Fábio, Thiago e Cayo foram enfáticos em dizer que essa é uma tentativa frustrada de descredibilizar o trabalho sério que vem sendo realizado.

“Após uma investigação para desarticular uma organização criminosa na polícia Civil e na polícia Militar de pessoas praticando extorsão outros desdobramentos podem levar até outros indivíduos, inclusive, policiais corruptos. Confesso que não estou surpreso com as acusações, pois isso passa a ser uma tese de defesa, que houve algum tipo excesso durante o interrogatório para que isso anule os atos da investigação”, esclareceu Fábio.

O delgado reiterou que as pessoas envolvidas nos supostos crimes de extorsão foram presas em flagrante. “Há imagens que mostram eles praticando a extorsão, tem vítimas que reconhecem eles e além disso a própria confissão em vídeo dos suspeitos. Então levando em consideração esses fatos podemos dizer que essa acusação é infundada. Lamentamos que isso esteja ocorrendo”, acrescentou.

Fábio foi questionado pela reportagem se os delegados temem investigar a banda podre da polícia: “Nós recebemos denúncias através do Disk Denúncia, formalizadas, que haviam ameaças em nosso desfavor. Só podemos levar a conclusão que essas ameaças tem alguma relação com essa investigação”.

O delegado Thiago Prado disse para Folha que grupo investigado vinha praticando há pelo menos dois anos o crime de extorsão e que tudo isso está em inquérito policial junto com Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), que tem total conhecimento dos fatos. “Não iremos retroceder um milímetro se quer até demonstrar que há polícias civis utilizando-se do aparato estatal para praticar crimes. A DEIC jamais será conivente com isso”.

Por fim, o delegado Cayo Rodrigues destacou que o pedido de afastamento das funções dos delegados citados é um “nítido jogo de interesse, pois os investigados pedem o afastamento dos investigadores”.

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