Base bolsonarista acusa presidente de ‘traição’ e parte para confronto nas redes

BRASÍLIA – A indicação do desembargador Kassio Nunes Marques para ocupar uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) fez crescer o cordão de antigos bolsonaristas que partiram para o confronto aberto com Jair Bolsonaro, acusando o presidente de “traição” aos compromissos assumidos na campanha de 2018. O anúncio para a Corte provocou fortes críticas e uma onda de descontentamento, com ameaças de debandada e pressão para que Bolsonaro mude o nome do indicado.

O grupo dos desiludidos, já integrado por ex-ministros, como Sérgio Moro – que no passado chegou a ser cotado para uma vaga no STF e em abril pediu demissão da Justiça –; Luiz Henrique Mandetta – dispensado da Saúde – e Carlos Alberto dos Santos Cruz, praticamente enxotado da Secretaria de Governo – tem se ampliado cada dia mais. Os ataques vêm agora de todos os lados, principalmente da ala “raiz” do bolsonarismo, e a hasthag #BolsonaroTraidor desponta com força nas redes sociais.

Empresários, militares, evangélicos e ativistas ideológicos apontaram a escolha do juiz Marques como um “grave erro” e uma oportunidade perdida de nomear um “conservador” para a cadeira do ministro do STF Celso de Mello, que se aposentará no próximo dia 13. Bolsonaro disse estar “chateado” com a insatisfação. “Vocês confiam ou não em mim?”, perguntou ele, na semana passada, a um grupo de militantes, na entrada do Palácio da Alvorada.

O encontro de Bolsonaro na casa do ministro do STF Dias Toffolli, no sábado, com a presença de Marques e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), agravou a situação. O movimento Vem Pra Rua, que liderou manifestações pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), passou a defender a saída de Bolsonaro e decretou “luto” do Brasil com o governo.

“Na campanha, Bolsonaro prometeu enfrentar o sistema. No poder, Bolsonaro negociou a indicação de Kassio Nunes com Gilmar, Toffoli e Davi Alcolumbre. Existe traição maior que essa?”, pergunta o Vem Pra Rua em post publicado nas redes, também citando o ministro do STF Gilmar Mendes.

O movimento começou a entoar a palavra de ordem “Fora, Bolsonaro” e está sugerindo protestos em todo o País, no próximo dia 25. “Falando sério. Precisamos pensar numa forma de acolher quem desembarca dessa canoa furada do bolsonarismo”, diz outra mensagem do Vem pra Rua.

Bolsonaristas ligados ao mercado financeiro também deram sinais de desembarque do governo. O tom mais forte veio de um dos responsáveis por apresentar ao presidente o ministro da Economia, Paulo Guedes, até pouco tempo atrás um dos pilares do governo. “Hora de desembarcar. Acabou. Um erro dessa envergadura não se faz por acaso”, reagiu Winston Ling, empresário e investidor sino-brasileiro, histórico partidário da causa conservadora e do liberalismo no País.

Estadão

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