Na retomada do depoimento de Eduardo Pazuello na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, nesta quinta-feira, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI, acusou o ex-ministro da Saúde de já ter mentido em 14 oportunidades e pediu formalmente a contratação de uma agência de checagem para verificar possíveis inverdades ditas pelos depoentes.
Nesta quinta, Pazuello alegou que decisões sobre compra de vacinas não eram “só de uma pessoa” e também culpou o governo do Amazonas e a empresa fornecedora White Martins pela falta de oxigênio em Manaus no colapso hospitalar em janeiro. Pazuello alegou ainda que teria ocorrido um “roubo” que levou à divulgação indevida do aplicativo TrateCov, que receitava cloroquina até para bebês, embora a plataforma tenha sido divulgada por canais oficias do governo.
— É fundamental essa comissão contratar o serviço para fazer uma procura online da verdade, uma varredura das mentiras que estão sendo pronunciadas aqui. Tivemos uma primeira amostragem dessas contradições, inverdades e omissões. O depoente em 14 oportunidades mentiu flagrantemente e ousou negar suas declarações — disse Renan, que ironizou: — É a negação do negacionismo. Deve ser uma nova cepa. Negar tudo o que está posto, que a sociedade conhece, acompanha e se indigna, é tripudiar da CPI, imaginar que palavras são jogadas ao vento. Precisamos que se respeite essa comissão.
A declaração de Pazuello sobre compra de vacinas ocorreu ao ser questionado pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) sobre a adesão ao consórcio Covax Facility. Inicialmente, o ex-ministro disse que a decisão se deu “no âmbito da Casa Civil”, então chefiada pelo também general Walter Braga Netto. Pazuello admitiu que foi sua a decisão de compra da cobertura mínima, com 10% das doses, conforme relato do ex-chanceler Ernesto Araújo à CPI. Em seguida, contudo, disse que as decisões sobre vacinas eram tomadas em grupo.
— A decisão não é só de uma pessoa, é do grupo que está trabalhando, é um colegiado — disse Pazuello.
Pazuello também reiterou, durante os questionamentos de Alessandro Vieira, que não protelou a assinatura do contrato com a farmacêutica Pfizer e alegou ter formalizado o memorando de entendimento (MOU) com a empresa “independente (da anuência) da assessoria jurídica” do governo, citando supostas resistências da Controladoria-Geral da União (CGU) e da Advocacia-Geral da União (AGU) ao negócio.
Pazuello também foi instado a se explicar novamente sobre o recuo na intenção de compra da vacina Coronavac, após ser desautorizado pelo presidente Jair Bolsonaro, e respondeu a um questionamento do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) dizendo que não mandou retirar do Twitter do Ministério da Saúde a postagem que anunciava a compra. Na pergunta, Randolfe citou um tuíte deletado da conta oficial do ministério após a fala de Bolsonaro.
— Algum servidor pode ter tirado. Eu não mandei tirar nada de Twitter — disse Pazuello.
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