Esquerda precisa rever sua agenda para liderar reconstrução do Brasil, diz ex-ministro da Defesa

Alagoano Aldo Rebelo, que foi filiado ao PCdoB por décadas,comenta sobre pandemia, Governo Bolsonaro, Judiciário e eleições de 2022

Leonardo Ferreira

“A pandemia tornou pior o que já estava ruim”. Essa é a avaliação do ex-ministro da Defesa, Aldo Rebelo, sobre o cenário político brasileiro. Para o alagoano, que já exerceu diversos cargos em diversas conjunturas seja no Legislativo ou no Executivo, o presidente Bolsonaro representa o desgoverno, mas a esquerda também precisa rever sua agenda de prioridades. Em entrevista, ele também falou sobre CPI da Covid e eleições de 2022.

Nascido em Viçosa, Rebelo esteve à frente dos ministérios do Esporte, Ciência e Tecnologia, Defesa, além da extinta Secretaria de Relações Institucionais, durante os governos de Lula e Dilma Rousseff. Segundo ele, a crise brasileira foi apenas impulsionada pela pandemia, citando a despreparo do Governo Federal, bem como a falta de organização da oposição.

“O Brasil está cercado politica, econômica e socialmente por um feixe de crises difíceis. É uma crise de desorientação, porque o governo não tem a mínima ideia para onde vai conduzir o País. Nós também temos uma oposição muito fragmentada e desorientada sobre o que é importante, com o abandono da Agenda Nacional de Desenvolvimento”, afirmou Rebelo à Folha/Mix.

“Então, a situação é agravada pela pandemia, com desemprego, perda de renda, desindustrialização, queda na arrecadação, onde estados e municípios estão sem recursos para nada.A isso a pandemia agregou um morticínio de mais 400 mil vidas ceifadas por irresponsabilidade e omissão do governo, que não teve capacidade de gerir a crise da Saúde de acordo com as normas as quais o mundo todo aplicou”, lamentou.

Perguntado sobre a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid, o ex-deputado federal pelo PCdoB afirmou que a investigação deve exibir como toda a cadeia de comando federal falhou no enfrentamento à pandemia, cujos erros ocasionaram na morte de centenas de milhares de brasileiros.

“A CPI está cumprindo o seu papel, de mostrar que ‘o rei está nu’, ou seja, que o Brasil viveu um período na área da Saúde de desgoverno. Os depoimentos são absolutamente desencontrados. O ex-ministro que ocupou o cargo (Eduardo Pazuello) foi atrás de habeas corpus com medo de ser preso. Ele se comportou de maneira totalmente irresponsável e isso não é o depoimento de gente da oposição, não. São dois ex-ministros da Saúde do mesmo governo (Henrique Mandetta e Nelson Teich) que estão apontando as irresponsabilidades dos governantes na condução dessa crise”, opinou.

Bolsonaro vs Lula em 2022
Com toda essa polarização política, todas as pesquisas até aqui apontam que Lula e Bolsonaro lideram a corrida presidencial para 2022. A respeito do tema, Rebelo comentou que não descarta outro nome ganhando força até o pleito e nem se Lula estará elegível.

“Como estamos no Brasil, com uma interferência grande do Judiciário, ninguém sabe direito o que vai acontecer amanhã. O Judiciário tirou Lula da disputa em 2018; agora, o devolveu, mas não dá para saber se vai aparecer algum juiz no caminho para dar a Lula uma inelegibilidade. É preciso ter muita cautela. Eu não confio na segurança jurídica das decisões”, afirmou.

“Se disputar, vamos ver, porque Lula tem um apoio grande da população, com Bolsonaro tendo outra parte, mas a maioria tem uma rejeição por ambos. A disputa entre os dois é uma hipótese. Podemos ter outra candidatura que naturalmente não apareceu ainda, mas que possa ainda cumprir outro papel”, completou o alagoano.

Chance de golpe
Recentemente, Bolsonaro afirmou que “se não tiver voto impresso, não terá eleição”. O ex-ministro, porém, não acredita que o presidente tenha apoio das instituições para um possível golpe de estado.

“Bolsonaro não tem ascendência, liderança e autoridade para dar golpe de nada. Vive de bravatas, com o objetivo de esconder os fracassos na sua política. Acho, também, que ele usa como distração para setores da classe média, que vivem intimidados com isso. Toda vez que Bolsonaro ameaça, todo mundo corre atrás disso e ele faz o que quer nas outras áreas”, expôs Rebelo.

Lutas progressistas
Finalizando um livro sobre a história dos movimentos de construção brasileira, o alagoano, mais um a ser presidente da Câmara entre 2005 e 2007, teceu críticas à militância atual da esquerda, pautada, segundo ele, por olhar apenas para questões de costumes.

“Com exceções, a esquerda abraçou essa agenda identitária e abandonou a da ideologia, o que importa são as questões de gênero, raça e corporações. A maioria dos brasileiros ficou órfã das políticas de esquerda. Vejo isso olhando agenda do Congresso e os projetos apresentados. É um pacto entre as corporações, bancos, multinacionais, que patrocinam essa agenda identitária, porque não querem a questão nacional como centro do debate, e setores da esquerda falam que tudo bem, enquanto o Brasil é destruído” concluiu.

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