O Conto da Aia sempre foi real

Foto da série "The handmaid's tale", inspirada no livro "O conto da Aia"

Distopia, segundo o dicionário, significa: lugar ou estado imaginário em que se vive em condições de extrema opressão, desespero ou privação;  É qualquer representação ou descrição, organizacional ou social, cujo valor representa a antítese da utopia ou promove a vivência em uma “utopia negativa”, uma antiutopia.

Eu tenho medo de ser mulher nesta sociedade, porque parece que todas nós, algumas com maior intensidade e violência do que outras, vivemos mesmo uma distopia desde o início de nossas vidas. Esses dias eu acabei revisitando a história do livro “O conto da Aia”, da escritora canadense Margaret Atwood e senti, tudo de novo, o quanto ele machuca. 

“Nenhuma esperança. Sei onde estou, e quem sou, e que dia é hoje. Esses são os testes e estou sã. A sanidade é um bem valioso; eu a guardo escondida como as pessoas antigamente escondiam dinheiro. Economizo sanidade, de maneira a vir a ter o suficiente, quando chegar a hora”.

Este livro tão absurdo, impacta justamente porque nos mostra como vivenciamos tantas coisas parecidas com aquilo tudo que a história nos apresenta. Quando nos atentamos a isso, a ficção fica bem em segundo plano na leitura e o remexer dos sentimentos, de medo principalmente, invade a nossa superfície. As situações são tão absurdas e inacreditáveis que tudo se confunde, realidade e imaginação, e este livro joga bem na nossa cara uma profunda reflexão: será que já não passamos algumas vezes pelo caminho de Gilead? Eu diria que sim, inúmeras. 

Situações de violência, exploração, violação e controle dos nossos corpos, opressão, perda da nossa identidade, feminicídio e a lista segue imensa. Esse assunto bateu um pouco mais pesado por aqui, não foi? É que a vida real está bem mais entre a gente do que se imagina, sabe? E não adianta nada tentar mascarar a realidade com doses de frivolidades, quando a urgência está batendo desesperadamente em nossa porta. 

“Agrada-me refletir sobre essa mensagem. Agrada-me pensar que estou em comunhão com ela, essa mulher desconhecida.”

A releitura de “O conto da Aia” balançou um bocado as minhas estruturas emocionais e eu achei importante compartilhar aqui com quem me lê. Vida real e ficção distópica se misturam e nos assustam na mesma medida. Nós somos leiloadas, rifadas, exibidas como objetos de conquista. O tempo inteiro. Não estivemos seguras em nenhum momento da história, não estamos protegidas em nenhum lugar do mundo. E como bem disse Simone de Beauvoir: “basta uma crise política, econômica e religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados”.

Clique aqui para ler a sinopse do livro

 

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