Leonardo Ferreira
Há 41 anos, um homem de União dos Palmares decidiu fincar raízes em Maceió fundando uma padaria em busca de melhores condições para sua família. Após quatro décadas e já sob administração do filho, Dirceu Buarque, a tradicional padaria Belo Horizonte, no Pinheiro, é mais um negócio a fechar as portas na região.
Em emocionante carta aberta, escrita pela filha dos proprietários Dirceu Buarque e Claudia Pedroza, a família anunciou o fim das atividades para 31 de dezembro. Com a diminuição na clientela diante do deserto que virou a área evacuada, não restou alternativas para o casal.
“Eu não tive nem condições emocionais de escrever aquela carta. Foi minha filha Maria Carolina quem redigiu, a pessoa que talvez herdasse a padaria para que desse continuidade ao legado. A padaria tem 41 anos, e ela, 22, tendo crescido dentro da padaria, cursou nutrição e poderia até expandir os negócios”, contou Dirceu em entrevista à Folha/Mix.
Ele lembrou do pai e afirmou que a problemática das rachaduras e afundamento do solo foi uma facada no coração de todos os alagoanos.
“É de cortar o coração ver o bairro do Pinheiro, numa área altamente privilegiada, abandonado. O Pinheiro hoje é um cemitério”.
“Se meu pai soubesse que um dia poderia deixar o filho que assumiu o legado de um negócio passar por isso, tenho certeza que ele não teria aberto comércio nenhum nessa cidade. Até porque é muita injustiça. Hoje eu me pergunto se vale a pena ser comerciante, gerar emprego, pagar imposto, sendo que as autoridades, o poder público cruzam os braços e fecham os olhos para nós”, desabafou Dirceu.
Ele conta que não houve avanços nas tratativas com a Braskem e que, em reunião no Ministério Público do Estado, os próprios membros do órgão ministerial admitiram que o acordo foi corrido e não pensou nos comerciantes.
“O pessoal que fez esse acordo, MPE, Defensoria Pública e MPF, foi muito inocente. Como pessoas gabaritadas e capacitadas não viram que, além de moradores, existiam comércios? São 4.500 negócios e empresas, e eles não sabiam que tirando os moradores do bairro, os comércios iriam falir? E sem condições de sequer indenizar os funcionários”, lembrou Dirceu.
Reclamando da morosidade judicial, Dirceu afirma, porém, que o acordo não foi péssimo, porque “imagine se cada um de nós tivesse que entrar na Justiça para receber a indenização? A Braskem sem reconhecer e ainda com uma das melhores bancas de advogados do país? Como eu, falido, teria condições de lutar contra uma empresa dessa?”.
O dono ainda criticou políticos pelas falsas promessas de auxílio às vítimas do desastre socioambiental, sem poupar ninguém: governador, prefeito, senadores, vereadores, deputados.
“Se eles cruzam os braços, vamos contar com quem? Um crime dessa magnitude e não tem ninguém respondendo processo”, lembrou.
“O que eu peço é que sirva de exemplo para que não deixem ocorrer esse problema de novo em nossa cidade, estado, país. Antes de liberar a exploração de mineradoras, que as autoridades competentes olhem onde estão explorando para que não seja numa área urbana e sequer ao entorno dela”, finalizou o empreendedor.