Descaso e politicagem refletem na dura realidade dos funcionários do Hospital Veredas

Capa Jornal Folha de Alagoas, abril de 2022.

Redação

Diante de atrasos salariais e outros direitos violados, os funcionários do Hospital Veredas continuaram esta semana com a sequência de paralisações e reivindicações. Nesse cenário de descaso, que não é novidade na história do antigo Hospital do Açúcar, os interesses políticos continuam pautando a gestão e velhos problemas castigam, sobretudo, os trabalhadores.

Em conversa com a Folha, o presidente do Sindicato dos Auxiliares e Técnicos de Enfermagem de Alagoas, Mário Jorge, contou que a greve continua no rodízio de 30% de trabalhadores de todas as categorias, como prevê a legislação, embora, com a pressão sindical e diminuição dos serviços, os gestores do Veredas tenham garantido o pagamento de parte dos vencimentos.

“O hospital fechou a folha de fevereiro e abriu a de março até R$ 1.270, mas os trabalhadores decidiram manter a greve até que se pague as férias e conclua a folha salarial do mês de março”, detalhou o classista.

Ele contou que a justificativa é a mesma, atrasos no repasse dos recursos por parte das secretarias municipal e estadual de saúde. Chegou ao conhecimento da reportagem também que funcionários mais ativos nos atos seguem sendo ameaçados de demissão.

“Solicitamos uma audiência com o governador temporário [desembargador Klever Loureiro], mas até agora não tivemos retorno da agenda pedida com ele, bem como demandamos para o Ministério Público do Trabalho e aguardamos uma posição”, acrescentou Mário Jorge.

Tal quadro, porém, parece interminável, já que os atrasos se repetem mês após mês gerando paralisações constantes. A reforma e a modernização da entrada e paisagem feita no momento em que houve a troca do nome para Veredas apenas tentaram mascarar e dá um novo rosto a má gestão, carregada de interferência de poderosos envolvidos em processos e denúncias.

Na direção financeira se encontra Adeilson Loureiro Cavalcante, irmão do deputado estadual Alesson Loureiro Cavalcante, conhecido como Léo Loureiro, eleito em 2018 com 27 mil votos.  O diretor e médico foi secretário de Maceió de Cícero Almeida e secretário-geral do Ministério da Saúde. No ano passado, teve que ir para Brasília depor na CPI da Covid-19.

Presidente do Veredas, Edgar Antunes
Adeilson Loureiro Cavalcante, diretor financeiro do Veredas

A chegada à administração da saúde pública por Adeilson, amigo do deputado Arthur Lira, coincide com o período em que o Partido Progressistas assumiu o controle do SUS durante o governo de Michel Temer, especialmente com o deputado Ricardo Barros, que virou um dos principais alvos de investigação pelo Senado, em suposta irregularidade na compra de vacinas.

 

Repasses volumosos

Essa boa relação gerou frutos gordos ao Veredas, segundo aponta dados da transparência do Governo Federal. Como revelado por reportagens anteriores, entre 2018 e 2019, ano que Adeilson assumiu como um dos gestores do hospital alagoano, foram repassados quase R$ 60 milhões em recursos federais, enquanto a Santa Casa de Misericórdia, por exemplo, foi agraciada com menos de R$ 10 milhões.

Um cartaz que circula nas redes sociais aborda a questão política e possíveis crimes cometidos pela família Loureiro, o presidente do Veredas, Edgar Antunes, além de outros personagens que comandam o hospital inaugurado há cerca de 70 anos. A denúncia é assinada pelos próprios colaboradores, sem nomes, claro.

“Quando é período eleitoral, o deputado Léo Loureiro se apropria do Veredas para começar a barganha de votos com troca por emprego no mesmo. Esse grande deputado está por trás da quadrilha e juntos desviam verbas públicas, as quais deveriam ser destinadas para pagamentos de salários, férias e compra de insumos”, diz a acusação.

Procurada pela reportagem, a assessoria do Veredas mandou a protocolar nota, na qual afirma que cumpre com suas obrigações, cuja atual gestão pagou R$ 115 milhões em salários e encargos nos três primeiros anos que assumiu a instituição, além de R$ 11 milhões agora em 2022. Argumenta também que adota o modelo de pagamento por faixa, do menor ao maior, citando a “inadimplência a que está submetida por quem financia a saúde pública”.

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