Eu gosto de olhar as janelas das pessoas enquanto caminho pela rua. Tenho curiosidade de saber quem mora ali. Será que cabe uma família de seis naquele apartamento que parece ser tão pequeno? E as plantas? Eu adoro as varandas que parecem mini-florestas suspensas, uma pequena fonte de oxigênio no meio da selva de pedras.
Janelas com cortinas, vazias, com película fumê. Às vezes o morador olha de volta, mas não é bem para mim que ele está olhando e sim para a rua que parece não estancar o movimento em hora alguma. Janelas servem um pouco como arte do encontro. Tem sempre alguma coisa para ser vista do lado de fora, e tantas vezes eu tento adivinhar o que está acontecendo naquele exato momento que eu parei para observar. Já vi alguém tocando violino no fim de tarde, enquanto um discreto caminho de raios de sol penetrava pelos vidros e refletia de volta, junto com o som que saía do instrumento. Eu estava tão perto que conseguia ouvir aquele raro toque de música clássica.
Todo mundo precisa de uma dose de escapismo e olhar janelas é a minha. Olhar para o alto e tentar adivinhar as histórias que existem do outro lado daqueles quadrados que compõem a arquitetura do prédio e se abrem para mostrar um pouco do mundo a quem se aproxima deles. A espera de alguém importante que está para chegar, a esperança aflita de rever uma pessoa especial. Janelas são aberturas para os “e se?” da vida. O que deve estar pensando aquele homem debruçado, tarde da noite que, enquanto fuma um cigarro, contempla o vão imperfeito da rua, desfrutando da sua própria companhia? Insônia, talvez. E entre pensamentos distantes, divagando sobre seus sonhos e escolhas, ele apenas observa o movimento de carros e pedestres. Nos meus passeios errantes e também contemplativos, tem sempre alguém dançando, trocando de roupa ou falando ao telefone, o que me leva a criar histórias possíveis para aquele mundo onde provavelmente eu nunca terei acesso e é totalmente impenetrável, um mundo que mantém aquela atmosfera a salvo de qualquer perigo. Será que ela lavou a louça, retirou as roupas do varal, ligou para os pais e marcou a consulta no ginecologista que vinha adiando há meses?
O mar cabe na janela, diz o poeta. E ele é tão imenso quanto os detalhes de cada dia, da vida de quem sai, de quem chega e de quem não tem para onde ir. Olhar as janelas das pessoas e imaginar o que se passa com elas, gravar na mente os pequenos pedaços de eternidade, imaginar quais dramas elas enfrentam e sentir exatamente a medida do meu próprio egocentrismo, é um dos aspectos ocultos dessa minha pequena e excêntrica mania. Aliás, presta atenção, quem sabe um dia eu não passe olhando para a sua janela também.
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