Entrevista: escritora alagoana Natália Lopes lança primeiro livro de poesia

‘Pequenas cartas há tempos ensaiadas’ é o nome da obra

Arquivo Pessoal

Por Nycole Melo

Em meio ao desafio de ser escritora, mulher e mãe, Natália Lopes, de 34 anos, busca conquistar seu espaço no gênero da poesia com seu primeiro livro “Pequenas cartas há tempos ensaiadas”.

Uma obra que traz em suas páginas, um ato de resistência e manifesto com uma pitada de afeto, para envolver a todos em uma leitura leve e apaixonante.

O que podemos esperar de pequenas cartas há tempos ensaiadas?

O “Pequenas cartas” é um livro que busca uma aproximação do leitor por meio dos sentimentos transformados em palavras. Eu espero que as pessoas se identifiquem com o trajeto emocional que eu coloquei no livro, passando por momentos de angústias, confusões emocionais, mas também amadurecendo ao longo do percurso, indo sempre no sentido do amor e da cura, acima de tudo.

Como surgiu a ideia do livro e há quanto tempo você o escreve?

No geral, eu escrevo há muitos anos. Textos pessoais, poemas que ainda nem sabiam ser poemas, diários e crônicas. Mas foi em 2018 que eu coloquei em prática o meu projeto Ensaiando Palavras, no instagram de mesmo nome e a partir daí, eu fui registrando tudo num só lugar.

Foi aí que veio a pandemia e todo o meu processo de escrita se intensificou, e eu fui me firmando cada vez mais nas redes sociais e ganhando mais autoconfiança para compartilhar um pouco mais do que eu escrevia.

O livro foi se criando ao longo de todo esse período, e no ano passado eu percebi que poderia reunir os meus poemas para ver se daria em algo. E deu no “Pequenas cartas há tempos ensaiadas”.

Como é seu processo com a escrita?

 Penso em frases, possíveis versos de poema, tô sempre com lápis e caderno perto de mim para anotar as ideias que vêm feito tempestade.

Estou a todo momento ouvindo música, fazendo curadorias de imagens que encontro enquanto viajo pela internet, fora as fotos de coisas cotidianas que eu vou tirando no meu próprio celular.

O processo é sempre muito orgânico e é preciso que eu esteja estimulando o tempo inteiro o meu pensamento. Para mim, tudo vira texto.

Divulgação

 Qual sua poesia favorita do livro?

 Que difícil essa pergunta… mas acho que tem um poema que tem uma carga afetiva e emocional muito forte, que eu fiz em homenagem à minha avó, que já não está mais aqui:

[eu ainda sonho com você

com tanta

frequência

que parece que

nós nos vimos

ontem

 

o cheiro

de lavanda

seu jeito sério

de lidar

com tudo

 

ainda tenho

os crochês

os bordados

a colcha de retalhos

que você deixou para mim

 

a vida

anda mais difícil

por esses lados

e eu acho

que aquele

doce de goiaba

me ajudaria

a organizar as ideias

e tantas outras

coisas

 

a coleção de livros

“como ser uma boa mãe”

que você me deu

quando em mim

crescia um pedaço

da gente

continua aqui

comigo

mas eu deixei guardada

porque já faz um tempo

que aquelas teorias

não

funcionam mais

eu te honro

 

minha vida

continua sentindo

falta

da sua

 

– para as avós que ainda vivem dentro da gente]

Antes do livro físico, você escrevia e publicava seus versos em redes sociais. Como vê a migração da leitura para o smartphone?

Eu só vejo pontos positivos em qualquer formato de leitura. Todo escritor quer ser lido e quanto mais acessível sua escrita estiver, mais leitores ele terá. Ler é essencial, e cada pessoa pode fazê-lo à sua maneira.

 O Brasil perde uma livraria a cada três dias. Sendo escritora e leitora,  acredita que isso afeta  o acesso à literatura?

 Isso é triste, muito triste. Mas apesar de termos vivido anos obscuros no sentido de fomento à arte e à cultura, com ataques e cortes vindos de todos os lados, de forma institucional principalmente, tem muita gente com a caneta forte, resistindo a tudo e indo na contramão dessas perdas.

Acho que não temos somente o que lamentar, mas continuar trabalhando e produzindo para democratizar ainda mais o acesso aos livros, seja por meio de livro impresso, com lutas por projetos de incentivo à leitura e produção e reivindicação para que haja mais atenção ao que o setor precisa e merece.

O livro “Pequenas cartas há tempos ensaiadas” pode ser adquirido diretamente com a escritora no instagram @ensaiandopalvras ou através do site da Editora Penalux: https://www.editorapenalux.com.br/.

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