Da Redação
O valor pago pela Prefeitura de Maceió na compra do Hospital do Coração tem um sobrepreço que pode passar de R$ 150 milhões, segundo estudos de mercado.
Há dois dias, o prefeito João Henrique Caldas anunciou a compra por R$ 266 milhões pelo hospital da rede privada, que possui 75 leitos, segundo o Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde (CNES), instrumento federal para acompanhamento de todos os serviços prestados pelo equipamento de saúde. Os recursos para aquisição do hospital são provenientes do acordo com a Braskem.
Hoje, o valor médio de mercado por leito hospitalar gira entre R$ 1,5 milhão e R$ 2 milhões. Segundo a consultoria Condere, o preço de leito hospitalar nas transações dos maiores grupos hospitalares do país caiu nas aquisições fora das grandes capitais.
Reportagem do jornal Valor sobre aquisições hospitalares feitas nos últimos anos mostra, por exemplo, que a Rede D’Or pagou por leito R$ 2 milhões em praças como Salvador (BA) e São Luís (MA) e a Hapvida NotreDame Intermédica praticou um valor de pouco mais de R$ 1 milhão por leito em suas últimas negociações.
Segundo a matéria, um leito de internação de um hospital localizado em uma cidade com mais de 2 milhões de habitantes é negociado a R$ 1,8 milhão. Já em localidades com mais de 1 milhão de habitantes, como é o caso da capital alagoana, o ativo deveria ser vendido por R$ 1,6 milhão.
Estudo da XVI Finance, consultoria financeira especializada no setor de saúde, mostra que o valor médio por leito nas operações de aquisição no país em 2022 foi de R$ 1,5 milhão.
Como o Hospital do Coração tem 75 leitos e o valor médio de mercado é entre R$ 1,5 milhão e R$ 2 milhões, o preço da transação deveria girar entre R$ 112,5 milhões (75 vezes R$ 1,5 milhão) e R$ 150 milhões (75 vezes R$ 2 milhões).
O prefeito de Maceió informou que a compra é R$ 266 milhões, o que aponta para um sobrepreço entre R$ 116 milhões e R$ 153,5 milhões. Isso significa que o superfaturamento na operação pode chegar a 136%.
Além da discrepância entre o valor praticado pelo mercado e o que foi anunciado pela prefeitura de Maceió na compra do hospital, há uma série de informações relevantes que foram omitidas na negociação, como a avaliação imobiliária do equipamento e os critérios para a escolha específica do Hospital do Coração. A capital possui diversas unidades hospitalares com estrutura e número de leitos maiores.
O prefeito João Henrique Caldas informou durante o anúncio que a unidade de saúde, que se chamará, Hospital da Cidade, terá 220 leitos, embora a estrutura tenha apenas 75. Além disso, disse que a unidade, que hoje é específica para cardiologia, terá maternidade e ala para tratamento oncológico, o que vai demandar ainda mais gastos por parte do município.