Torcida Organizada não é Organização Criminosa: Uma Reflexão sobre a Ação Policial Red Blue em Maceió

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Artigo

José Bispo da Silva Filho*

As torcidas organizadas são uma parte intrínseca e apaixonante do cenário esportivo alagoano e brasileiro. Elas transcendem a mera representação de grupos de torcedores nas arquibancadas, constituindo verdadeiras comunidades onde laços de identidade e pertencimento são forjados. A recente operação policial, denominada Red Blue, que cumpriu 15 mandados de prisão e 17 de busca e apreensão em Maceió, coloca em pauta a relação entre esses grupos e a sociedade.

É essencial compreender que as torcidas organizadas não são apenas aglomerações de entusiastas do esporte; são movimentos sociais compostos, em sua maioria, por jovens de periferia e trabalhadores, em busca de um espaço de pertencimento que a sociedade muitas vezes lhes nega. Ao se agruparem em torno de um clube de futebol, encontram não apenas um motivo para torcer, mas também uma plataforma para expressar sua identidade, pertencimento e solidariedade.

Esses agrupamentos juvenis, longe de serem organizações criminosas, desempenham um papel significativo no contexto social. Muitas torcidas organizadas realizam ações de cunho social nas periferias, buscando contribuir positivamente para as comunidades de onde muitos de seus membros provêm. É fundamental reconhecer essas iniciativas como expressões de solidariedade e mobilização social.

A Associação Nacional das Torcidas Organizadas (ANATORG) é um exemplo de como esses grupos buscam não apenas a promoção de seu time, mas também a criação de ambientes familiares nas arquibancadas. A luta pela construção de espaços onde todos possam desfrutar do futebol com suas famílias revela um anseio por uma sociedade mais igualitária e justa.

Contudo, a recente operação policial lança luz sobre a necessidade de repensar a abordagem em relação às torcidas organizadas. O problema não reside na existência desses grupos, mas na maneira como são tratados e geridos. A violência associada a algumas dessas torcidas não é inerente à sua natureza, mas sim uma consequência das circunstâncias e da falta de um adequado gerenciamento.

Como apreciador do futebol, entendo as torcidas organizadas como um componente cultural crucial. O foco deve ser na reforma do tratamento desses grupos, permitindo sua atuação de forma mais autônoma, porém responsável. O cerne da questão da violência está no indivíduo, e a identificação e punição adequada, dentro do devido processo legal e com direito à ampla defesa, representam uma abordagem mais justa e eficaz para lidar com eventuais transgressões.

O fim das torcidas organizadas não é a solução. Elas representam uma parte valiosa da cultura do futebol brasileiro ao longo de décadas. Eliminar as torcidas organizadas não é a solução; ao contrário, seria privar o futebol brasileiro de uma rica expressão cultural que perdura há décadas.

Em vez disso, é imperativo reformular a abordagem, promovendo práticas que evitem a criminalização generalizada desses grupos.

As torcidas organizadas, quando orientadas para atividades positivas, podem desempenhar um papel crucial na identificação e resolução de problemas dentro da comunidade do futebol.

Entender as torcidas organizadas vai além da superfície do fervor nos estádios. 

Elas representam verdadeiras comunidades, onde laços profundos de identidade e pertencimento são forjados. São mais do que manifestações de apoio aos clubes; são expressões de solidariedade entre indivíduos que muitas vezes compartilham origens sociais similares.

Portanto, urge a necessidade de compreender as nuances que envolvem as torcidas organizadas, reconhecendo seu potencial positivo e promovendo ações que direcionem esses grupos para contribuições construtivas dentro e fora dos estádios.

Em última análise, é fundamental buscar um equilíbrio entre preservar a cultura das torcidas organizadas e implementar medidas que assegurem a segurança e a ordem nos eventos esportivos. O diálogo e a compreensão mútua entre as autoridades, os clubes, e os próprios torcedores são fundamentais para construir um ambiente saudável e seguro nas arquibancadas brasileiras.

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