Prefeitura ignora alternativas e desapropria 40 casas para conclusão de obra no Antares

Foto: Cortesia | Desapropriação no Antares

Romison Florentino

A conclusão de uma obra viária, que promete ligar as avenidas Durval de Góes Monteiro e a Menino Marcelo vai custar, por falta de planejamento e imposição da prefeitura de Maceió, a desapropriação de 40 residências no Antares, parte alta da capital, afetando a vida de diversas famílias que moram na região.

A inexistência de diálogo e consultas públicas tornaram a execução da obra ainda mais danosa, não somente em relação ao número de pessoas que vão ser obrigadas a deixar suas casas, mas também em relação ao impacto ambiental. É válido pontuar que os recursos da nova via são provenientes da indenização da Braskem.

Visando encontrar soluções que atenuassem os danos ambientais e estruturais, os moradores, em conjunto com a comunidade acadêmica, apresentaram à gestão municipal outros caminhos para a viabilidade da obra, porém, foram ignorados.

Nesse sentido, uma das alternativas mais eficientes era passar pela Avenida Maria Carolina, onde apenas seis imóveis, dentre eles, um que está abandonado, seriam afetados. Porém, de acordo com a apuração da Folha de Alagoas, um dos locais que seriam lesionados nesse trajeto, é pertencente a um empresário de destaque da capital, fazendo com que a opção fosse completamente descartada.

Em entrevista à reportagem, o arquiteto e professor da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Dilson Ferreira, explicou que, caso a obra se concretize pela rua Audálio Lopes, os danos podem ser maiores que o explicitado pela prefeitura.

“Há um imóvel que ficará isolado entre a via e a praça, de forma ilhada, o que pode forçar o morador a querer sair, elevando o número real de afetados para 16 imóveis residenciais. No entanto, ainda não sabemos o traçado final da obra e se mais casas serão afetadas. Diferente do que ocorreria na Avenida Maria Carolina, o impacto ambiental do projeto na Rua Audálio Lopes afetará outras áreas verdes, tanto nesta primeira fase do projeto quanto em sua futura interligação com a Avenida Rota do Mar”, explicou o professor.

OBSTÁCULOS

O que chama atenção é que a prefeitura informou ao Ministério Público de Alagoas (MPAL) que seriam cerca de 13 imóveis afetados, no entanto, para quem reside no local, isso não passou de um blefe para conseguir autorização de demolição e assim impor a concessão aos moradores.

“Eles ludibriaram o MP, se fosse pela Avenida Maria Carolina, seriam afetados seis imóveis, entre eles uma casa desabitada, um ponto comercial e um galpão. A priori, aqui (rua Audálio Lopes) seriam afetadas 28 casas, mas como eles viram que era uma disparidade muito grande, fizeram de tudo para igualar com a Maria Carolina”, explicou o corretor de imóveis e morador do Antares, Jô Andrade.

O morador ainda relatou que após o aval do MPAL, técnicos começaram a visitar residências próximas das desapropriadas, fazendo notificação e relatando que caso haja rachaduras, também vão precisar retirá-los.

SEM DISCUSSÃO

O plano diretor da capital está defasado há 10 anos e ainda assim previa a via do Antares. Entretanto, ela deveria ser realizada pela Avenida Maria Carolina, assim como defendem os especialistas. Vale destacar que é a única avenida do loteamento criada justamente para essa finalidade.

“É importante relatar que uma obra desse tipo conecta duas BRs, a BR-316 e a BR-104, que é a Fernandes Lima. Sendo assim, seria necessário realizar um estudo de impacto ambiental, de vizinhança, bem como um estudo de viabilidade técnica, econômica e ambiental. Esses estudos deveriam ter sido apresentados à população juntamente com o projeto”, ressaltou o professor, Dilson Ferreira.

O que fica claro é que, não houve discussão pública, nem audiências, para que fossem realizados debates para se chegar a um consenso sobre o projeto e, assim, definir uma solução mais apropriada e menos prejudicial. Nada disso foi feito, e, se foi feito, não chegou a ser apresentado à população até o momento.

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