Isadora Noia*
Familiares de João Firmino dos Santos Neto, de 58 anos, internado no Hospital Metropolitano de Alagoas, denunciam uma série de erros e negligências em seu tratamento. No dia 12 de outubro, João Firmino chegou ao hospital com sintomas de confusão mental e desequilíbrio.
Inicialmente o paciente foi tratado com suspeita de AVC, mas posteriormente veio o diagnóstico de uma neoplasia cerebral. Desde então, segundo a família, sua situação se agravou não apenas devido à doença, mas também por falhas no atendimento médico.
João foi transferido da UPA Galba Novaes, no Tabuleiro do Martins, após uma tomografia detectar uma massa no cérebro. Ao chegar ao Hospital Metropolitano, foi encaminhado diretamente para a UTI, onde permaneceu alguns dias para avaliação.
Contudo, de acordo com Tacyanne Santos, filha de João, nenhum oncologista avaliou o caso. “Os exames demoravam semanas para ter laudo, e apenas a equipe de neurocirurgia acompanhava, tentando decidir se o tumor era operável ou não”, conta.
Ainda na UTI, ele foi submetido a novos exames, que incluíram ressonâncias com contraste. Foi durante um desses procedimentos, no dia 23 de outubro, que ocorreu o que Tacyanne classifica como “um erro gravíssimo”. O acesso intravenoso para aplicação do contraste, feito no pulso esquerdo de João, foi realizado de maneira inadequada, resultando em extravasamento de uma veia.
“O braço dele começou a inchar, ficou vermelho e dolorido. Os enfermeiros diziam que era normal, mas a situação só piorava”, relata a filha.
O paciente, que tem histórico de diabetes e hipertensão, viu o quadro se agravar rapidamente. A infecção avançou, e a família afirma que o hospital demorou a tomar providências, mesmo após vários pedidos de atenção à ferida. “Meu pai já perdeu um dedo do pé por causa de uma infecção, então sabíamos que isso era grave, mas eles só diziam para esperar”, desabafa Tacyanne.
A ferida no braço evoluiu para necrose, levando à intervenção de um cirurgião vascular apenas semanas depois do ocorrido. A cirurgia de limpeza do tecido necrosado foi feita às pressas, mas a infecção já havia comprometido boa parte do membro e afetado os ossos. A equipe médica indicou a necessidade de novas cirurgias, mas informou que o hospital só realiza esse tipo de procedimento às quintas-feiras, o que prolonga o sofrimento do paciente.
LUTA POR RESPOSTAS
Além da preocupação com o braço, Tacyanne destaca a falta de atenção ao tumor cerebral que levou o pai ao hospital. “A gente tá muito aflito enquanto família porque o meu pai entrou para tratar uma neoplasia e provavelmente vai sair sem um membro que nada tem a ver com o câncer dele que é no cérebro”, afirma.
“O meu pai estava no hospital aguardando o parecer de um oncologista para poder tratar o quadro de neoplasia dele, que até hoje esse oncologista nunca apareceu”, completa ela.
A filha conta que recorreu à ouvidoria do hospital, enviando e-mails e fotos que documentam o agravamento do quadro do pai, mas nenhuma providência foi tomada. “Eu me sinto de mãos atadas. Dói no fundo da minha alma ver o sofrimento que meu pai está passando. Eu preciso denunciar isso. Ele entrou para tratar um tumor no cérebro e pode sair sem um braço, tudo por causa de negligência”, diz emocionada.
PEDIDO DA FAMÍLIA
Tacyanne busca justiça e urgência no tratamento de João. Ela afirma ter provas detalhadas, com fotos e datas, que documentam os erros e o descaso. “Tenho registros do momento em que fizeram o acesso errado, da evolução da ferida e de tudo o que aconteceu. Nós só queremos que ele tenha o tratamento digno que merece, sem mais atrasos”, conclui.
A família considera entrar com uma denúncia formal contra o hospital e apela para que o caso chame a atenção das autoridades de saúde.
Confira a nota do Hospital Metropolitano na íntegra:
“Nota de Esclarecimento
Assistência ao Paciente J.F.S.N.
A Direção do Hospital Metropolitano de Alagoas, em Maceió, esclarece que não procede a alegação de negligência na assistência prestada ao paciente J.F.S.N., reafirmando o compromisso com a qualidade do atendimento aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) no estado.
O hospital vem prestando toda a assistência necessária e adequada ao paciente, que foi admitido com suspeita de lesão expansiva intracerebral, e vem sendo acompanhado pelas equipes da endocrinologia, ortopedia especialista em mãos, neurocirurgia, neurologia clínica, proctologia, clínica médica, oncologia e cirurgia vascular.
Em reunião realizada nesta quinta-feira (5), entre especialistas, equipe multidisciplinar e familiares do paciente, foram estabelecidos os próximos passos para o pleno atendimento ao usuário.
O HMA reafirma que todos os esforços estão sendo realizados para garantir o melhor cuidado e segurança ao paciente, seguindo protocolos rigorosos e boas práticas médicas. A unidade permanece à disposição dos familiares para esclarecimentos e reforça a importância de manter o diálogo, por meio dos canais oficiais de comunicação, a exemplo da Ouvidoria SUS da unidade.”
/Estagiária sob supervisão