Quaest: aprovação ao governo Lula sobe e atinge maior nível em 2025

Pela primeira vez, em seis meses, a aprovação volta a crescer de forma consistente, reduzindo a diferença entre apoiadores e críticos. Veja os números.

Foto: Sérgio Lima/Poder360

Pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira (20) mostra que o presidente Lula conseguiu interromper a curva de queda em sua popularidade e apresenta sinais de recuperação. Depois de um primeiro semestre marcado por indicadores econômicos desfavoráveis e pela crise da alta nos preços dos alimentos, o governo voltou a ganhar fôlego: 46% aprovam Lula, ante 40% em junho. A desaprovação, que havia atingido 56% em março, recuou para 51%.

A melhora é modesta, mas significativa: pela primeira vez em seis meses a aprovação volta a crescer de forma consistente, reduzindo a diferença entre apoiadores e críticos. Esse movimento interrompe um ciclo de erosão que vinha desde o fim de 2023, quando Lula ainda aparecia com mais de 50% de aprovação.

Foto: Reprodução/Quaest

Para o CEO da Quaest, Felipe Nunes, a melhora na aprovação do governo Lula em agosto resulta da combinação de fatores econômicos e políticos.

“A percepção do comportamento do preço dos alimentos trouxe alívio às famílias e reduziu a pressão sobre o custo de vida. Ao mesmo tempo, a postura firme de Lula diante do tarifaço imposto por Donald Trump foi vista como sinal de liderança e defesa dos interesses nacionais. Menos pressão inflacionária somada à imagem de um presidente que reage a desafios externos ajudam a explicar o avanço de sua aprovação neste momento”, diz Nunes.

Avaliação mais equilibrada

A melhora se reflete também na percepção qualitativa. O grupo que classifica o governo como “positivo” subiu para 31%, enquanto os que avaliam como “negativo” recuaram para 39%. Os que o veem como “regular” somam 27%, estáveis nos últimos meses.

Esse equilíbrio indica que Lula ainda não retomou a hegemonia da narrativa, mas deixou de estar acuado pelo pessimismo dominante que marcou o início do ano.

Força no Nordeste

O presidente mantém seu bastião no Nordeste, onde a aprovação chega a 60%. A região segue sendo a base de sustentação mais sólida, especialmente entre beneficiários do Bolsa Família (60% de aprovação).

Divisão no Sudeste

No Sudeste, que concentra 43% do eleitorado brasileiro, Lula aparece com 42% de aprovação e 52% de desaprovação. Embora desfavorável, esse número é melhor do que no primeiro semestre, quando a rejeição chegou a superar 60%.

Resistência no Sul e Centro-Oeste/Norte

No Sul, a aprovação é de apenas 38%, contra 61% de desaprovação. Já no Centro-Oeste/Norte, Lula consegue 44% de apoio, mas ainda perde para os 53% que reprovam sua gestão.

Perfil social do apoio

O cruzamento por segmentos sociais reforça o padrão histórico do lulismo:

Renda: até 2 salários mínimos, Lula lidera com 55% de aprovação. Entre quem recebe mais de 5 salários mínimos, o índice despenca para 39%.

Escolaridade: quanto maior a escolaridade, maior a desaprovação. O governo é aprovado por 56% dos que têm até o fundamental, mas por apenas 42% dos que concluíram ensino superior.

Religião: Lula mantém maioria entre católicos (54% aprovam), mas enfrenta rejeição pesada entre evangélicos (65% desaprovam).

Gênero: as mulheres estão ligeiramente mais favoráveis (48% aprovam), enquanto entre homens a taxa cai para 44%.

Idade: entre os mais jovens (16 a 34 anos), 54% desaprovam Lula; já entre idosos (60+), há maioria de aprovação (55%).

Esse retrato reforça que a popularidade do presidente se ancora nas classes populares e nos mais velhos, mas encontra resistência entre jovens urbanos, classes médias e evangélicos.

Economia: da crise ao alívio moderado

A economia continua sendo o maior desafio do governo, mas os dados da pesquisa mostram uma mudança de tendência.

Piorou: caiu de 56% em março para 46% em agosto a parcela dos que acreditam que a economia piorou nos últimos 12 meses.

Melhorou: subiu de 16% para 22% no mesmo período.

Expectativa futura: 40% acreditam que a economia vai melhorar nos próximos 12 meses, contra 30% em março.

Além disso, o peso da inflação de alimentos começa a ceder. No auge, em dezembro de 2024, 83% afirmavam que os preços tinham subido; em agosto de 2025, o número caiu para 60%.

Trump, tarifas e o discurso nacionalista

Um fator político novo também aparece como determinante: a crise diplomática com os Estados Unidos. Após o presidente Donald Trump anunciar tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, Lula assumiu protagonismo no discurso de defesa nacional.

49% acreditam que Lula age em defesa do Brasil, contra 41% que o acusam de se autopromover.

67% defendem negociar com os EUA, alinhados à postura do Planalto.

Quando comparados diretamente, 48% consideram que Lula e o PT estão certos nesse embate, contra 28% que escolhem Bolsonaro e seus aliados.

Esse episódio trouxe ganhos políticos ao presidente, permitindo-lhe reagrupar sua base e se apresentar como líder acima da disputa interna, em um cenário de ameaça externa.

Comparação com Bolsonaro

A pesquisa confirma que a comparação com Jair Bolsonaro ainda rende dividendos políticos a Lula. 43% consideram que o atual governo é melhor, contra 38% que o veem como pior.

Esse dado é estratégico porque mostra que, mesmo em meio a dificuldades econômicas, o presidente consegue se diferenciar do antecessor em parte significativa da opinião pública, especialmente entre moderados e eleitores que não se identificam com nenhum dos dois polos.

O que ainda pesa contra o governo

Apesar dos sinais de recuperação, o governo enfrenta desafios estruturais:

Direção do país: 57% dos brasileiros ainda acreditam que o país segue na “direção errada”.

Emprego: 55% dizem que está mais difícil conseguir trabalho do que há um ano.

Poder de compra: 70% afirmam que conseguem comprar menos hoje do que há 12 meses.

Divisão social: Lula enfrenta barreiras sólidas entre evangélicos, jovens e classe média urbana, grupos decisivos para a formação de opinião.

Esses números mostram que a recuperação ainda é incipiente e frágil, dependente de uma melhora mais concreta da economia.

Os dados foram coletados entre 13 e 17 de agosto. A margem de erro estimada da pesquisa é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, e o índice de confiança é de 95%.

Veja os dados da pesquisa Quaest

/Congresso em Foco

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