Banco que JHC ‘investe’ dinheiro dos aposentados pode falir, diz Agência

Redação

O Banco Master, instituição que recebeu mais de R$ 100 milhões do dinheiro dos aposentados de Maceió, pode enfrentar restrições severas de liquidez e financiamento nos próximos meses, caso a confiança dos investidores seja abalada pelos recentes eventos de crédito no mercado, segundo alerta da agência Fitch Ratings.

Maceió foi a única capital brasileira a destinar montante expressivo ao Banco Master. Caso o banco venha a sofrer liquidação extrajudicial, o município pode simplesmente não reaver o dinheiro investido. Situação semelhante só foi registrada no fundo previdenciário do estado do Rio de Janeiro, conhecido por escândalos de má gestão e corrupção.

Documentos obtidos pela Folha de Alagoas revelam que o Instituto de Previdência dos Servidores Públicos de Maceió (Iprev) aplicou R$ 168,5 milhões em operações suspeitas — sendo R$ 117,9 milhões em letras financeiras do Banco Master e R$ 51,4 milhões em cotas do fundo imobiliário Nest Eagle. Nenhuma dessas aplicações conta com garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC).

As aplicações ferem diversas normas legais e administrativas, incluindo as Resoluções 4.963 e 4.695 do Conselho Monetário Nacional, que determinam segurança, rentabilidade e liquidez nos investimentos de regimes próprios de previdência.

Também há indícios de violação ao artigo 37 da Constituição Federal, à Lei de Responsabilidade Fiscal, à Lei de Improbidade Administrativa (8.429/1992) e à Lei Municipal nº 5.828/2009, que rege o regime previdenciário de Maceió.

O QUE É A FITCH

A Fitch é uma das três principais agências globais de classificação de risco, ao lado de Moody’s e Standard & Poor’s. Suas notas — que vão de “AAA” a “D” — indicam o grau de confiança que investidores podem ter na capacidade de uma empresa ou governo honrar suas dívidas. Atualmente, o Banco Master está avaliado em B- com observação negativa, o que já sinaliza alto risco de crédito.

BANCO CENTRAL BARROU

No início de setembro, o Banco Central (BC) rejeitou a proposta de fusão do Banco Master (B-/Observação Negativa) com o Banco de Brasília (BRB, B-/Observação Negativa), o que gerou preocupação sobre a estabilidade da captação e a capacidade de obtenção de resultados da instituição privada.

O Banco Master tem papel importante no mercado de fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs), uma importante fonte de captação de algumas empresas, especialmente nos setores de varejo e consumo.

Uma queda acentuada no acesso a capital a custo competitivo pressionará empresas com necessidades de refinanciamento no curto prazo, considerando que linhas de crédito rotativo compromissadas não são comuns no Brasil, afirma a Fitch.

Segundo a agência, um cenário de restrição de crédito e alta de custos de capital pode pressionar companhias com necessidade de refinanciamento no curto prazo, especialmente porque linhas de crédito rotativo são pouco comuns no Brasil.

NA MIRA DA PF

A Polícia Federal instaurou um inquérito para investigar crimes contra o sistema financeiro, como gestão fraudulenta, envolvendo o Banco Master.

O procedimento já estava em andamento e ganhou novos elementos depois que o Banco Central compartilhou documentos com o Ministério Público Federal. Esses documentos são referentes às negociações da compra do Master pelo Banco de Brasília (BRB).

Em março deste ano, o conselho do BRB aprovou a compra de 58% do capital do Master. O valor foi estimado em cerca de R$ 2 bilhões. Após meses de negociações, a operação foi barrada no início de setembro, quando o BC rejeitou a aquisição.

Capa do jornal Folha de Alagoas – Edição nº 150
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