Moraes reabre inquérito sobre interferência de Bolsonaro na PF

Decisão atende pedido da PGR e retoma apuração sobre possível interferência de Jair Bolsonaro na Polícia Federal, revelada por Sergio Moro após deixar o Ministério da Justiça.

Foto: Marlene Bergamo/Folhapress

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a reabertura das investigações no inquérito que apura suposta interferência política de Jair Bolsonaro na Polícia Federal (PF) durante seu mandato na Presidênca da República. A decisão atendeu a um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), que reviu sua posição e pediu novas diligências para aprofundar a apuração.

O Inquérito 4.831 havia sido arquivado a pedido da própria PGR em 2022, sob o argumento de que não havia indícios de crime. Três anos depois, porém, o órgão apontou “necessidade de diligências complementares” diante de indícios de que Bolsonaro buscou obter informações privilegiadas de investigações sigilosas e influenciar apurações que envolviam ele próprio, familiares e aliados políticos.

A nova manifestação da PGR, datada de 15 de outubro de 2025, cita declarações do ex-ministro da Justiça Sergio Moro, dadas em abril de 2020, quando deixou o governo denunciando tentativas de ingerência na PF. Segundo o órgão, diálogos via WhatsApp entre Bolsonaro e Moro indicam que o então presidente decidira trocar o diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, com o objetivo de controlar investigações sensíveis. Uma das mensagens enviadas por Bolsonaro a Moro dizia: “Moro, o Valeixo sai essa semana. Isto está decidido. Você pode dizer apenas a forma”, seguida de outra em que enviou uma reportagem com o título “PF na cola de 10 a 12 deputados bolsonaristas” e o comentário “Mais um motivo para a troca”.

Com base nesses elementos, a PGR quer esclarecer se houve uso indevido da estrutura do Estado para obtenção de informações sigilosas e obstrução de investigações. O inquérito apura possíveis crimes de falsidade ideológica, coação no curso do processo, advocacia administrativa, prevaricação, obstrução da Justiça e corrupção passiva privilegiada por parte de Bolsonaro.

Na decisão, Moraes acolheu integralmente o pedido e determinou o retorno dos autos à PGR, que terá 15 dias para se manifestar sobre os próximos passos da investigação. O caso remonta a uma das crises políticas mais graves do governo Bolsonaro, marcada pela saída de Moro e pelo início das suspeitas de interferência no comando da PF, episódio que, agora, volta oficialmente à pauta do Supremo. Posteriormente, nas eleições de 2022, o ex-ministro (agora senador) se reaproximou do ex-presidente.

/Congresso em Foco

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