Desde a criação, em 2022, da Delegacia Especial dos Crimes contra Vulneráveis Yalorixá Tia Marcelina, a população passou a ter onde e a quem recorrer. O resultado é direto: as denúncias triplicaram em três anos, saltando de 9 em 2022 para 29 em 2024, segundo a Polícia Civil (PC/AL). Onde antes havia medo e desamparo, agora há confiança e acolhimento.
Antes da delegacia, esse tipo de crime raramente chegava aos registros oficiais, as vítimas sofriam caladas, por medo, vergonha ou desconhecimento. Ou seja, o aumento das denúncias de intolerância religiosa em Alagoas não é um sinal de agravamento é prova de que o Estado está presente.
Por trás das estatísticas, há histórias como a de Mãe Nadja Cabral, Ekedy de Oxum, artesã e presidente da Undeke Alagoas. Negra, mãe solo e avó, Nadja enfrentou o preconceito dentro e fora de casa.
“Fui humilhada, agredida e excluída só por usar um turbante. Minha religião não é moeda de troca. Quem me ama precisa aceitar minha fé, meus turbantes e meu trabalho pelo meu povo”, desabafa.
DELEGACIA INAUGURADA NO PRIMEIRO ANO DA GESTÃO PAULO DANTAS
Instalada no Complexo de Delegacias Especializadas (CODE), em Mangabeiras, a unidade reúne uma equipe multidisciplinar — policiais, psicólogos e assistentes sociais — voltada à investigação e ao atendimento humanizado.
A delegacia se tornou referência no Nordeste no combate à intolerância religiosa, ao racismo, à homofobia e a outras formas de violência contra minorias.
“Ela foi criada justamente para oferecer um espaço seguro, onde pessoas de religiões de matriz africana se sintam vistas e respeitadas. O aumento das denúncias mostra que há confiança no Estado e que as vítimas sabem que terão resposta”, afirma a delegada Rebeca Cordeiro.
O Governo agora amplia essa rede de proteção, articulando a Secretaria de Direitos Humanos, o Núcleo de Integridade da Informação e organizações da sociedade civil em novas ações de prevenção, educação e enfrentamento à desinformação religiosa — uma das principais fontes de preconceito no ambiente digital.
Para o secretário de Estado da Segurança Pública, Flávio Saraiva, o Governo de Alagoas assumiu o compromisso de proteger todas as formas de fé e expressão religiosa. “A criação da Delegacia Yalorixá Tia Marcelina representa mais do que uma estrutura policial — é um símbolo de respeito, acolhimento e coragem para transformar o silêncio em denúncia. Cada registro feito é uma voz que se levanta contra o preconceito e reafirma que, em Alagoas, a intolerância não tem espaço”, disse.
A DOR QUE VIROU AÇÃO
Relatos como o de Nadja inspiram campanhas e formações promovidas pelo Governo de Alagoas em escolas, comunidades e órgãos públicos — reforçando que combater a intolerância é educar para o respeito.
O secretário de Direitos Humanos, Marcelo Nascimento, confirmou que a criação da delegacia é uma vitória para todas as pessoas de matriz africana e população negra em geral, pois os crimes são motivados por preconceito religioso, racial e desinformação. “A delegacia garante o direito à liberdade de crença, que é assegurado pela Constituição, além de oferecer um canal oficial para denúncias e acolhimento de vítimas, combatendo assim o preconceito cruel e construindo uma sociedade mais inclusiva”.
FÉ PROTEGIDA PELA LEI
A intolerância religiosa é crime, previsto na Lei nº 7.716/1989. O registro de ocorrência é essencial para que a Polícia Civil investigue e o Judiciário puna os responsáveis.
A Delegacia Yalorixá Tia Marcelina mantém canal permanente de denúncias e atendimento com sigilo e acolhimento garantidos.
SERVIÇO
Localização: Complexo de Delegacias Especializadas (CODE). Av. Comendador Gustavo Paiva, 1725 – Mangabeiras, Maceió – AL, 57031-530
Telefone: (82) 3315-8272
Expediente: segunda a sexta-feira, das 8h às 18h.
Delegada Titular: Rebecca Cordeiro
/Agência Alagoas
