Redação*
A Polícia Federal prendeu nesta sexta-feira (12) os empresários Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, e Maurício Camisotti, suspeitos de participarem de fraudes envolvendo o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A ação, determinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), é um desdobramento da Operação Sem Desconto, que apura um esquema bilionário de descontos indevidos em aposentadorias e pensões.
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Quem é o ‘careca do INSS’, apontado pela PF como figura central do esquema de descontos indevidos
Na operação desta sexta-feira, a PF apreendeu carros, além de armas e joias. Entre os veículos apanhados pela PF, está uma réplica da McLaren MP4/8, que foi usada pelo piloto Ayrton Senna na temporada de 1993, e uma Ferrari F8. Os agentes também recolheram dinheiro vivo e um vasto acervo de relógios e móveis antigos.
As investigações revelaram que os envolvidos praticaram “os crimes de impedimento ou embaraço de investigação de organização criminosa, dilapidação e ocultação de patrimônio, além da possível obstrução da investigação por parte de alguns investigados.” Ao todo, segundo a PF, “estão sendo cumpridos dois mandados de prisão preventiva e 13 mandados de busca e apreensão, autorizados pelo Supremo Tribunal Federal, nos estados de São Paulo e no Distrito Federal”.
Após ser preso, Antunes foi levado para a Superintendência da PF em Brasília. De acordo com a investigação, ele teria movimentado R$ 9,3 milhões em repasses destinados a pessoas ligadas a servidores do INSS, entre 2023 e 2024. Procurada, a defesa do empresário não se manifestou até o momento.
Já Camisotti foi preso pela PF em São Paulo. Em nota, a defesa do empresário afirma que “não há qualquer motivo que justifique sua prisão no âmbito da operação relacionada à investigação de fraudes no INSS” e que “adotará todas as medidas legais cabíveis para reverter a prisão e assegurar o pleno respeito aos direitos e garantias fundamentais do empresário”.
Os policiais federais também cumprem mandados de busca na casa e no escritório do advogado Nelson Willians, suspeito de realizar transações financeiras com Camisotti e uma das associações envolvidas no esquema de descontos indevidos do INSS. Durante a operação, agentes apreenderam uma réplica de quadros, armas e uma réplica de F1. Em nota, a defesa de Willians esclareceu que “tem colaborado integralmente com as autoridades” e que “a medida cumprida é de natureza exclusivamente investigativa, não implicando qualquer juízo de culpa ou responsabilidade”.
As investigações apontam que sindicatos e associações cobraram de aposentados e pensionistas descontos indevidos e sem autorização no período de 2019 a 2024. De acordo com a Polícia Federal, o valor do prejuízo pode chegar a mais de R$ 6 bilhões.
A PF aponta que as empresas ligadas ao “Careca do INSS” funcionavam como intermediárias financeiras das associações suspeitas, recebiam os recursos desviados e, em seguida, repassavam os valores a pessoas vinculadas às entidades ou a servidores do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
A PF afirma que Antunes recebeu R$ 53 milhões de associações de aposentados e pensionistas. Desse montante, mais de R$ 9 milhões foram transferidos diretamente para pessoas ligadas ao instituto.
Com a prisão, a expectativa é de que o depoimento de Antunes à CPI do INSS ganhe ainda mais relevância para o avanço das investigações sobre o esquema, considerado um dos maiores já identificados contra o sistema previdenciário.
Quem é o ‘Careca do INSS’?
O Careca do INSS se tornou uma figura central no escândalo dos descontos indevidos de aposentadorias e pensões. Em abril, ele e outros suspeitos foram alvos de uma operação da Polícia Federal que apura indícios de desvios de recursos. Segundo estimativas do governo, quatro milhões de pessoas podem ter sido vítimas do esquema que movimentou R$ 6 bilhões.
Ao mapear o caminho do dinheiro desviado, a PF descobriu que o Careca do INSS é “sócio de uma miríade de empresas” de diferentes setores. Pessoas físicas e jurídicas ligadas a ele receberam R$ 53,5 milhões de entidades sindicais e de empresas relacionadas às associações.
De acordo com a PF, Antunes é dono de uma frota de oito carros de luxo. Ele também tem imóveis em São Paulo e em Brasília, incluindo uma casa no Lago Sul, bairro nobre da capital federal — que ele teria comprado à vista, no valor de R$ 3,3 milhões, conforme documentos da investigação.
O empresário também consta como representante legal de uma firma sediada nas Ilhas Virgens Britânicas. “Trata-se, possivelmente, de uma offshore constituída por Antônio Carlos, a fim de blindar o patrimônio ilegítimo amealhado”, informou a PF.
Os ex-advogados de Antunes afirmaram à época da operação que a inocência do empresário será provada. “A defesa confia plenamente na apuração dos elementos constantes nos autos e na atuação das instituições do Estado Democrático de Direito. Ao longo do processo, a inocência de Antonio será devidamente comprovada”, disseram eles em nota.
Conexão política
Figura conhecida nos círculos políticos de Brasília, Antunes tinha uma ampla rede de contatos. Um dos parlamentares com quem se reuniu é o senador Weverton Rocha (PDT-MA), aliado do ex-ministro da Previdência Carlos Lupi. Os dois se encontraram no Senado e estiveram juntos na casa do parlamentar em Brasília durante um “costelão” (churrasco de costela).
Os encontros foram confirmados por pessoas próximas ao senador e pela própria assessoria do parlamentar. “Conheci Antônio Carlos Camilo Antunes em um costelão na minha casa, para a qual ele foi levado por um convidado. Na ocasião, ele se apresentou como empresário do setor farmacêutico”, disse Weverton em nota enviada ao GLOBO.
Weverton contou que recebeu o Careca do INSS em seu gabinete no Senado ao menos três vezes “para tratar da pauta legislativa de legalização da importação de produtos à base de cannabis para fins medicinais”. Procurado por meio de seu advogado, Antunes não comentou.
O parlamentar do PDT, que não é investigado, é um dos vice-líderes do governo no Senado. Devido à sua influência no Congresso, ele foi convidado para integrar a comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que foi à China na semana passada. No governo de Dilma Rousseff, foi assessor de Carlos Lupi no Ministério do Trabalho. Na época, o ministro deixou a pasta após suspeitas de desvios de recursos. Ele nega ter cometido irregularidades.
/com O Globo