A atuação catastrófica em 1982 fez com que a Argentina chegasse com sangue nos olhos ao México em 1986. A seleção, que quatro anos antes era considerada uma das favoritas, dependia exclusivamente de um dos maiores ídolos do futebol à época: Diego Maradona. No auge dos seus 25 anos, o atacante do menosprezado Nápoli precisava mostrar ao que tinha vindo.
Em sete partidas, a Argentina venceu seis jogos. O sétimo foi um empate contra a Itália na fase de grupos. Só de Maradona, vieram cinco gols — contra a Itália, a Inglaterra e contra a Bélgica, este último já nas semifinais. A torcida não acreditava. Os mexicanos não acreditavam. O futebol arte de Diego Maradona arrepiava inclusive os torcedores rivais. A taça chegou às mãos argentinas e o país sul-americano teve um herói consagrado: Diego Maradona.
Mas foi na Itália, em 1990, que o argentino deixou o mundo boquiaberto: apesar de o time ter perdido para a Alemanha na final, conseguiu encher o estádio de Nápoles de bandeiras azuis e amarelas. O craque era o ídolo do time italiano, cuja importância era pífia até a chegada de Maradona. Na semana do jogo entre Argentina e Itália, pela semifinal, o atacante convocou torcedores napolitanos a torcerem para a Argentina, alegando que “não fazia sentido torcer para o país que trata um povo como estrangeiro 364 dias por ano”. O estádio ficou dividido, e o time de Maradona derrotou a anfitriã nos pênaltis, após o empate por 1 a 1.
Levar a seleção argentina nas costas em duas Copas do Mundo parecia um feito histórico e impossível de ser repetido. Contudo, na noite de terça-feira (10), o ídolo do Barcelona Lionel Messi mostrou que dá para repetir a dose: com um pé fora da Copa da Rússia, Messi marcou 3 gols contra o Equador, em Quito, pelas Eliminatórias, e levou a Argentina ao Mundial. Até a manhã daquela terça-feira, o atacante do Barcelona era subestimado pelos torcedores e pela imprensa local. Hoje, é a capa de todos os jornais locais.
Criticado ao longo de boa parte de sua passagem de 12 anos pela seleção, Messi obteve um milagre particular em Quito. Não foi um título, não teve taça. Depois do choro convulsivo na decisão da Copa América do ano passado, na derrota por pênaltis para o Chile, quando amargou o terceiro vice-campeonato seguido, o camisa 10 saiu sorrindo do estádio do Equador.
Na entrevista coletiva concedida após a partida, o técnico Jorge Sampaoli evidenciou o brilho do jogador: “Messi não deve um Mundial à Argentina. É o futebol que deve um Mundial à Messi”.
História de Messi
A história de Messi na seleção é sofrida e merecia um capítulo feliz. Nas Copas do Mundo, ele perdeu em 2006, 2010 e 2014. Na Copa América, foram quatro decepções: 2007, 2011, 2015 e 2016. Os argentinos estavam ressabiados nesta temporada. Em 17 jogos das Eliminatórias, o time havia feito apenas 16 gols, o segundo pior ataque do torneio, à frente apenas da Bolívia.
Messi reescreveu toda a descrença e tirou todo o peso do país de seus ombros. Além disso, acabou com a sina de que ia mal na altitude — em cinco jogos, havia perdido três e empatado dois. Ainda não havia feito um gol como visitante nas Eliminatórias. Ele até jogou bem na partida contra o Peru, em casa, mas não marcou. Na noite desta terça-feira, encerrou o jejum atuando bem, armando e finalizando, exatamente como faz pelo seu clube, o Barcelona.
Maior artilheiro da seleção argentina, posto que alcançou na Copa América, ao marcar seu 55º gol, La Pulga mantém viva uma ambição pessoal: ganhar uma Copa do Mundo, brilhar com a camisa do seu país para alcançar o status de Maradona. Após a péssima fase, ele deu o primeiro passo nesta terça.
R7