No dia 1º, foi dado o ponta pé inicial no Dezembro Vermelho. O mês é lembrado em todo o mundo como o período de prevenção e combate à Aids e o assunto precisa ser tocado.
Na década de 80, ser diagnosticado com Aids, sigla em inglês que dá nome à doença da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, era como uma sentença de morte. Com o passar dos anos, o tratamento foi ficando mais moderno e a chance de ir a óbito diminuiu. Para isso, basta o paciente seguir a orientação médica corretamente. Antigamente, vários comprimidos teriam que ser ingeridos por dia pelo portador. Hoje, basta um para garantir uma vida semelhante à de quem não tem o vírus.
A patologia ainda é alvo de preconceitos e desconhecimento sobre suas implicações. Como uma tentativa de livrar quem teve uma exposição de risco contrair o HIV, até uma espécie de “pílula do dia seguinte” foi criada. O antirretroviral é disponibilizado gratuitamente pelo Serviço Único de Saúde (SUS).
A reportagem da Folha de Alagoas apurou que, em Alagoas, de janeiro junho do ano passado, pelo menos 188 pessoas foram diagnosticadas com Aids e 318 com HIV. Este ano, o número aumentou.
Segundo a Secretaria de Estado de Saúde (Sesau), um levantamento aponta que, no mesmo período em 2017, 202 pessoas descobriram estar com Aids e 442 com HIV.
Um estudo revela que mundo tem mais 36,7 milhões de pessoas vivendo com HIV. Pela primeira vez, mais da metade delas — 19,5 milhões — está em tratamento.
No Brasill, o Ministério da Saúde registrou aumento no número de casos de HIV em 2016. Foram 37.884 registrados no ano passado, contra 36.360 em 2015.
Na capital alagoana, o exame de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) pode ser feito gratuitamente no Bloco I do Pam Salgadinho, no Centro de Maceió, e no Hospital Doutor Helvio Alto (HUHE), no Trapiche. Ainda conforme a Sesau, os homens mais propensos em contrair o vírus quando comparados ao sexo oposto. Os heterossexuais lideram o ranking de infectados.
DIFERENÇA ENTRE HIV E AIDS
É de fundamental importância entender a diferença entre Aids e HIV. Pode-se dizer que a Aids é uma doença é derivada do HIV. De acordo com o infectologista Fernando Maia, como o vírus tem um longo período de incubação, uma pessoa pode ser portadora do HIV sem necessariamente estar com Aids.
Atualmente, ela é considerada uma doença de perfil crônico. Ainda não há cura, mas sim tratamento, o que possibilita o indivíduo viver com o vírus HIV por um longo período, de forma assintomática. Quanto mais cedo à presença do vírus for detectada, mais eficiente poderá ser o tratamento e afastar as chances de manifestar Aids.
EXPOSIÇÃO DE RISCO
Ainda desconhecido da maior parte da população, no primeiro e segundo quadrimestre deste ano, 162 pessoas, entre homens e mulheres, procuraram unidades de saúde para fazer o tratamento com o PEP. No mesmo período do ano passado, 132 foram submetidos ao tratamento.
A Profilaxia Pós-Exposição é um tratamento com terapia antirretroviral (TARV) por 28 dias para evitar a sobrevivência e a multiplicação do HIV no organismo de uma pessoa. Segundo o infectologista Fernando Maia, ela é indicada para as pessoas que podem ter tido contato com o vírus em alguma situação, como: violência sexual, relação sexual desprotegida ou acidente de trabalho, com instrumentos perfurocortantes.
Para funcionar, a PEP deve ser iniciada logo após a exposição de risco, em até 72 horas. O especialista adverte que a PEP não deve ser substituída pela camisinha. Segundo ele, o uso de preservativos masculinos e femininos é ainda a principal e mais eficiente maneira de se evitar o HIV. “Jamais deixe de utilizar camisinha e se proteger em toda relação sexual”, reforçou.
A PEP consiste na ingestão de uma pílula em uma dose diária única, mas, a depender da avaliação do profissional de saúde que o atender, você pode ser orientado a seguir outra combinação de medicamentos, o significar que você talvez precise tomar mais de um medicamento por dia. O mais importante é ter em mente que o tratamento, independentemente da quantidade diária de pílulas, não pode ser interrompido devendo ser seguido conforme prescrito pelo médico.
SOROPOSITIVO INDETECTAVEL
O principal objetivo da terapia antirretroviral é manter a boa saúde das pessoas vivendo com HIV. Quem segue o tratamento certinho a presença do vírus no sangue pode não acusar em testes laboratoriais padrão. Pode levar alguns meses até que se consiga reduzir os níveis de vírus a patamares indetectáveis.
Experimentos clínicos ao longo dos anos mostraram que pessoas com HIV que fazem terapia antirretroviral e têm uma carga viral indetectável não podem transmitir sexualmente o vírus a uma pessoa HIV negativa. A novidade foi anunciada na 9ª Conferência da Sociedade Internacional da Aids.
O MUNDO DESMORONOU
*Julio César descobriu ser portador do vírus há quatro anos. Ele contraiu a doença por meio de relação sexual.
Júlio conta que foi ao Pan Salgadinho fazer o teste por curiosidade e, ao receber o diagnostico, saiu de lá aos prantos. Ele passou vários dias trancado no quarto refletindo sobre o que fazer dali por diante. “O psicólogo da unidade me deu o resultado como dizem no popular “na bucha”. Me lembro como hoje: ele olhou e me disse “você é portador do HIV”. Sai de lá desesperado. O meu mundo caiu”.
Quando ingeriu a primeira medicação para combater o vírus, Júlio Cesar sentiu os efeitos colaterais. O remédio causou mal estar em seu estômago e tontura. 15 dias depois, ele se adaptou ao medicamento. “Vivo a minha vida do mesmo jeito que eu levava antes”.
Ele acha fundamental importância que o soropositivo revele a condição ao seu parceiro. “Hoje em dia, há muitos casais soro discordantes, quando um possuí o vírus e outro não”, completou.
Poucos amigos e familiares sabem de sua orientação. “O preconceito contra o portador ainda é grande. Campanhas deveriam ser feitas frequentemente para reverter esse quadro”, opinou Júlio César.
AUTO TESTE
O autoteste para detectar a presença do vírus HIV no organismo deve estar disponível em farmácias de todo o país até o fim do mês. Nesta semana, o primeiro teste desse tipo a ser vendido no Brasil começou a chegar às farmácias do Rio de Janeiro. O produto, que custa entre R$ 60 e R$ 70, pode ser comprado semreceita médica, e a testagem produz resultado 10 minutos após o sangue entrar em contato com o reagente.
O Brasil é o primeiro país da América Latina e Caribe a disponibilizar o autoteste em farmácias. Para a diretora do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Adele Benzaken, o produto é uma ferramenta importante para aumentar a capacidade de diagnóstico do vírus. Identificar a presença do HIV em 90% das pessoas infectadas é uma das metas da Organização das Nações Unidas (ONU) para 2020.
Por Guilherme Carvalho Filho – Jornal Folha de Alagoas