Depois de um lançamento bem-sucedido durante a 8ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas, o professor e escritor Marcos Damasceno, autor de Vá Pra Cuba – A Cuba que Vi, Ouvi e Senti, se prepara para receber o público leitor para uma noite de autógrafos nesta quinta-feira (25), a partir das 19h, II Feira Literária Quilombada, evento realizado em parceria com a Imprensa Oficial Graciliano Ramos, em cartaz no Shopping Pátio Maceió. O encontro literário é gratuito e aberto ao público.
O livro, selecionado pelo edital Para Publicação de Obras Literárias 2017 da Imprensa Oficial Graciliano Ramos, é um dos raros relatos sobre Cuba despojado de quaisquer preconceitos ideológicos, tanto à direita quanto à esquerda. A obra é fruto de anos de pesquisa sobre a ilha de Fidel Castro que incluiu também três viagens do professor de geografia ao reduto socialista caribenho.
Em Vá Pra Cuba – A Cuba que Vi, Ouvi e Senti, o autor faz uma análise criteriosa e objetiva sobre os alcances e limites da revolução socialista, ocorrida em 1959, que tirou o país da condição de semicolônia dos Estados Unidos. “A inspiração para realizar este livro veio da necessidade de oferecer um outro olhar a respeito de Cuba, muito em virtude de uma visão hegemônica distorcida da realidade daquela sociedade. Posso resumir que, de tanto ouvir falar de Cuba, na maioria das vezes numa perspectiva negativa, resolvi ir ao país, e tirar minhas próprias conclusões”, afirma Damasceno.
De acordo com Pedro Fassoni Arruda, cientista político e professor doutor da Pontifícia Universidade católica de São Paulo (PUC/SP), com esta obra, o espírito questionador de Marcos Damasceno revelou-se incompatível com a ditadura do pensamento único. “O autor pertence à geração que, antes de atingir a idade adulta, acompanhou pela televisão a queda do muro de Berlim e o colapso da União Soviética. Essa é também a minha geração. Sabemos como era difícil, naqueles tempos em que não tínhamos acesso às fontes alternativas de conhecimento, obter informações equilibradas dos fatos. Praticamente tudo o que sabíamos sobre Cuba provinha da mídia corporativa, ou seja, de uma meia dúzia de oligopólios midiáticos que anunciavam de maneira apologética que estávamos diante do ‘fim da história’, resumindo: que depois do chamado ‘socialismo real’, a economia de mercado triunfaria definitivamente sobre a humanidade”, analisa.
Arruda compara a imersão de Marcos Damasceno em Cuba à imersão realizada pelo pensador político francês Alexis de Tocquenville aos Estados Unidos e pelo do filósofo francês Montesquieu à Inglaterra para conhecerem os modelos de sociedade que mais admiravam. “Marcos Damasceno tornou-se turista. Ele sentiu a necessidade de conhecer in loco aquela pequena ilha do Caribe, situada a apenas 90 milhas de distância da maior potência imperialista da história. Mas enquanto Montesquieu e Tocqueville eram aristocratas, Damasceno assumiu a condição de um intelectual orgânico da classe trabalhadora”, ressalta.
Em seu relato, o professor de geografia chama a atenção para as conquistas da revolução que puderam ser notadas através de suas andanças pelo país. Cuba foi declarada território livre do analfabetismo, mesmo antes da declaração do caráter socialista da revolução, que aconteceu somente em 1961. O país conta ainda com uma das maiores taxas de alunos matriculados nas universidades entre todos os países do mundo, assim como o número de médicos per capita. Apesar das moradias malconservadas, em Cuba não existem moradores de rua. A população também não conhece a fome ou a desnutrição, e os avanços na saúde são combinados com a prática disseminada de atividades físicas que contribuem para transformar o país numa potência olímpica superior inclusive ao Brasil, mesmo com uma população vinte vezes menor. “O resultado desses avanços nos direitos sociais é uma população culta e educada, que vai ao encontro da frase mais famosa de José Martí: ‘Ser culto es el único modo de ser libre’”, cita o cientista político.
“A visão de mundo do autor não o impede de ser objetivo na sua análise. Marcos reconhece a existência de diversos problemas, e relatou no seu livro o teor de algumas conversas com cubanos insatisfeitos com a situação atual. Cuba não pode ser considerada ‘nem o paraíso nem o inferno’, como disse o próprio autor. Como todas as sociedades, Cuba é permeada de contradições, tanto no âmbito interno como nas relações com os outros países”, reflete Pedro Fassoni Arruda.
Assessoria