A 13ª Vara Federal de Curitiba começa a ouvir dez réus por um esquema de corrupção, lavagem de dinheiro e fraude licitatória nas obras de duplicação da PR-323, no Paraná.
O caso foi deflagrado na 53ª fase da Operação Lava Jato. De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), oconsórcio liderado pela Odebrecht foi favorecido na licitação de duplicação da rodovia que liga Maringá, no norte do Paraná, a Francisco Alves, no noroeste.
Segundo a denúncia, a empreiteira pagava propina a agentes públicos e privados no Paraná em contrapartida ao direcionamento do processo. A estrada é considerada uma das mais perigosas do estado, mas a obra nunca saiu do papel.
Nesta terça-feira (7), cinco réus serão ouvidos pelo juíz Luiz Antônio Bonat: Benedicto Barbosa da Silva Junior, Fernando Migliaccio da Silva, Luciano Ribeiro Pizzatto, Luiz Antônio Bueno Junior e Luiz Eduardo Soares. Todos eram executivos ou funcionários da Odebrecht (veja abaixo a lista dos réus e as respectivas acusações).
Outros cinco réus têm interrogatórios marcados para quarta-feira (8). Um dos ouvidos é Deonilson Roldo, ex-chefe de gabinete do ex-governador Beto Richa.
Segundo a denúncia do MPF, os empresários da empreiteira negociaram em 2014 R$ 4 milhões de propina com Roldo. De acordo com as investigações, R$ 3,5 milhões foram efetivamente pagos ao ex-chefe de gabinete.
Além dele, estão previstos para o mesmo dia os interrogatórios de Adolpho Julio da Silva Mello Neto, Jorge Atherino, Maria Lucia Tavares e Olívio Rodrigues Junior
Ao final dos interrogatórios, a Justiça abre prazo para as alegações finais do MPF e dos réus, para que então o juiz absolva ou aplique sentença aos acusados.
O G1 tenta contato com os citados.
Veja quem são os réus e quais crimes respondem:
Adolpho Julio da Silva Mello Neto, operador de mercado de câmbio negro: lavagem de dinheiro;
Benedicto Barbosa da Silva Junior, ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura: lavagem de dinheiro;
Deonilson Roldo, ex-chefe de Gabinete do ex-governador Beto Richa: fraude a licitação, lavagem de dinheiro e corrupção passiva;
Fernando Migliaccio da Silva, responsável pelo setor de Operações Estruturadas da Odebrecht: lavagem de dinheiro;
Luciano Ribeiro Pizzatto, ex-diretor de contratos da Odebrecht em Curitiba: fraude a licitação, lavagem de dinheiro e corrupção ativa;
Luiz Antônio Bueno Junior, ex-diretor-superintendente da Odebrecht das regiões São Paulo-Sul: fraude a licitação, lavagem de dinheiro e corrupção ativa;
Luiz Eduardo Soares, responsável pelo setor de Operações Estruturadas da Odebrecht: lavagem de dinheiro;
Jorge Theodócio Atherino, empresário e amigo de Beto Richa apontado como operador: lavagem de dinheiro e corrupção passiva;
Maria Lucia Tavares, responsável pelo setor de Operações Estruturadas da Odebrecht: lavagem de dinheiro;
Olívio Rodrigues Junior, controlava contas secretas da Odebrecht no exterior: lavagem de dinheiro;
Operação Piloto
O desdobramento da Operação Lava Jato que investiga o esquema de corrupção na duplicação da PR-323 foi batizado de Operação Piloto. Segundo o MPF, é uma referência ao codinome usado nas planilhas da Odebrecht para o ex-governador Beto Richa.
Richa não é réu nesta operação.
Segundo a acusação, o esquema foi ajustado em três reuniões entre o ex-chefe de gabinete Deonilson Roldo e representantes da empreiteira.
Os valores teriam sido entregues em São Paulo, em um condomínio relacionado à sogra do empresário Jorge Atherino.
PR-323
O Governo do Paraná lançou, em 2013, um programa de PPP para a duplicação de um trecho da PR-323 e de parte da PR-272, entre Maringá, no norte do estado, e Francisco Alves, no noroeste.
Segundo o Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná (DER-PR), o Consórcio Rota 323, liderado pela Odebrecht, venceu a licitação em junho de 2014. Porém, o contrato foi suspenso em setembro de 2016, porque a Odebrecht não comprovou capacidade financeira para executar o serviço.
A PPP previa investimentos de mais de R$ 7 bilhões, a duplicação de 207 quilômetros da PR-323 e trechos com pedágio após a entrega da rodovia, além de 30 anos de concessão. Do valor total, o contrato previa que R$ 3,6 bilhões seriam investidos em outras obras, além de manutenção, conservação e serviços aos usuários, explicou o DER-PR.
Seriam construídos 19 viadutos, 22 trincheiras, passarelas, pistas secundárias marginais e acessos seguros a todas as cidades por onde passa a rodovia, ainda conforme o DER-PR.
O contrato foi rescindido em maio de 2017.