FA morte de Wadi Gebara Netto (1 º de dezembro de 1937 – 1º de julho de 2019) aos 81 anos, nesta segunda-feira (1º), em decorrência de câncer, põe em evidência o legado deixado na indústria fonográfica por esse carioca que foi músico e, como muitos garotos da geração dele, amou o jazz e a bossa nova. Gêneros musicais que cultuou como trompetista de grupo amador com o qual se apresentava no Beco das Garrafas nos anos 1960.
Só que, além de cultuar, Wadi bancou discos desses gêneros como espécie de mecenas do mercado fonográfico independente do Brasil. “Ele foi uma referência importante de música para mim”, sintetiza a cantora Renata Gebara, lembrando que Wadi também tocava piano até há pouco tempo.
A rigor, Wadi Gebara – que será velado a partir das 13h de terça-feira, 2 de julho, no cemitério carioca São João Batista – se tornou uma referência de música para muitos artistas a partir dos anos 1960. Mais precisamente a partir de 1964, ano em que Gebara entrou para o mundo do disco ao se tornar sócio do produtor musical carioca Roberto Quartin (1943 – 2014) – a quem foi apresentado pelo pianista Luiz Carlos Vinhas (1940 – 2001) – no gerenciamento da gravadora Forma.
Companhia criada com o mesmo espírito idealista da gravadora Elenco, e que quase teve a primazia de lançar o primeiro álbum de Chico Buarque, a Forma bancou discos de Vinhas e de nomes como Baden Powell (1937 – 2000), Eumir Deodato, Moacir Santos (1926 – 2006), Quarteto em Cy, Rosinha de Valença (1941 – 2004), Sérgio Ricardo (que pela Forma editou em disco em 1964 as trilhas sonoras dos filmes Deus e o diabo na terra do sol e Esse mundo é meu, primeiro longa-metragem no qual assinou a direção) e Vinicius de Moraes (1913 – 1980), entre outros nomes.
Basta citar as edições de dois álbuns fundamentais da discografia brasileira, Coisas (Moacir Santos, 1965) e Os afro-sambas (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1966), para atestar a importância da gravadora.
Herdeiro das casas Gebara, popular loja de tecidos da cidade do Rio de Janeiro (RJ), Wadi usava o crédito que tinha no mercado para financiar discos sem visar o lucro financeiro, mas tão somente a realização artística.
“Éramos sonhadores. (…) A Forma foi um tremendo sucesso de ideias e um tremendo fracasso de vendas. Graças à ingenuidade e à inexperiência, fomos capazes de fazer algo realmente importante na nossa música”, inventariou Gebara certa vez, com orgulho, em entrevista.
O auge da produção fonográfica da Forma aconteceu entre 1964 e 1967, período em que a companhia foi gerenciada por Quartin e Wadi Gebara. A partir de 1968, a Forma virou selo da gravadora Philips.
Entre álbuns e compactos, cerca de 70 discos foram editados com o selo Forma entre 1964 e 1972. Essa história será contada em livro, ainda sem previsão de lançamento, escrito pelo jornalista Renato Vieira.
*Mauro Ferreira/G1