No poema “Canção do amor imprevisto”, Quintana diz: “Eu sou um homem fechado/o mundo me fez egoísta e mau/e a minha poesia é um vício triste(…)”. Tirando a poesia, que dessa me afastei já faz algum tempo (as que teimo em escrever morrem esquecidas numa pasta nesse velho computador) -, tomei o resto da frase para mim, como uma defi nição sincera, porém ferina e desesperadamente insensível. Poderia ser diferente, teria que ter uma amplitude de homem avesso a tristeza e possivelmente amparado em mais coisas que a vida, quando quer, oferece.
Sou um homem triste, embutido num casulo pequeno chamado de meu mundo. Vejo o futuro com obscuridade, distorcido numa tela que teima chuviscar, sem a nitidez necessária a minha pouca fé.
Não creio no amor porque os amores são banais e hoje perduram pelo necessário de uma formalidade ridícula, sem sustentação sentimental. Não se trata mais de um sentimento, mas de uma “coisa” necessária apenas para ajuntar, sem pilastras, fundação, vigas que o torne forte as erosões dos desencontros.
Sou melancólico porque a solidão toma conta da minha alma, destrói as expectativas fundamentais para se viver razoavelmente. Não me interesso pela geografi a humana, perdi várias oportunidades de ser feliz com a mulher que simbolicamente “amava”, por conta de uma espera que não entendi. Me decepcionei a vida inteira e nunca cheguei a renascer dos prantos mordaz que sempre afl igiu meu coração. Minhas decepções sempre traduziram a felicidade ao contrário, e nunca cheguei a crer nesse sentimento. A felicidade recuou sempre que lhe estendi as mãos; me negou a mulher que tanto desejei, furtou os momentos que deveriam ser eternos, não me deixou rascunhar meu melhor poema e nem me permitiu sorrir como tanto desejei.
Me tornei amargo por dentro, desajustado da memória e acabei por conversar comigo mesmo. E nesses diálogos loucos, chorei diante de mim porque procurei ser feliz e vi apenas os sonhos sumirem como em noite de pesadelos.
Juro que tentei me reerguer, mas vinha sempre uma queda para me deixar no chão, inerte e sem ação, quase desfalecido. E de tanto desencontro, me fechei ao mundo externo, e morri para dentro de mim. Não tenho previsão de quando posso ser feliz. Sou um homem de certa idade que carrega, ainda hoje, os desconfortos da vida, as mais ingratas feições que posso enxergar com meus olhos turvados de lágrimas, os nítidos processos que me levam a uma prisão eterna.
‘Não gostaria que fosse assim – ninguém pede para ser infeliz -, mas sempre pedi um momento de beleza simples, talvez alguma coisa morresse dentro de mim, talvez eu pudesse gritar ou rir de algum momento bom. Não sei, enquanto isso não acontece sou apenas um poeta sem poesia, um homem sem saber o sentido da verdadeira felicidade. Foi a vida que me fez assim e não tenho forças para mudar essa situação.