Jornal Folha de Alagoas
As decisões recentes do Ministério da Educação (MEC) colocaram, mais uma vez, a retomada das aulas presenciais em plena pandemia da Covid-19 no centro do debate do ensino brasileiro. De surpresa, uma portaria publicada no Diário Oficial da União determinava o retorno do ensino superior federal já em janeiro de 2021, o que surpreendeu as instituições, inclusive a Universidade Federal de Alagoas (Ufal), a qual reagiu com preocupação, mas também sem acirrar o discurso.
Sem discussões prévias, o ministério, que ficou marcado por polêmicas na gestão de Abraham Weintraub, voltou a fazer determinações enérgicas. Com a pressão, porém, recuou e mudou a data do retorno para março. A Reitoria da Ufal, por nota, explicou que foi pega de surpresa e que a retomada das aulas ou não vai ser discutida pelo Conselho Universitário (Consuni). A universidade não quis estipular data nem o plano, mas explicou que está trabalhando na proposta do próximo período letivo.
Os boletins epidemiológicos têm registrado um aumento no número de casos confirmados e investigados nas últimas semanas. A reportagem da Folha de Alagoas, na edição anterior, confirmou a situação em visitas a hospitais particulares de Maceió. De acordo com o infectologista Fernando Maia, o atual momento é de preocupação e é preciso esperar para ver o avanço das vacinas que estão sendo desenvolvidas e já aplicadas em outros países.
“É cedo para fazer previsão. Neste momento, não vejo condições de voltar às aulas presenciais, mas pode ser que daqui para o final de janeiro ou início de fevereiro possa ser que já tenha alguma vacina em andamento e a gente consiga retornar com mais tranquilidade. Mas, neste momento, não”, disse o médico.
Uma professora da Ufal, que pediu para não ter seu nome explicitado na reportagem, contou que o ensino remoto realmente não é o ideal, porém, no atual estágio da pandemia, não vale o risco voltar ao presencial, considerando as condições estruturais da universidade, bem como o público diverso presente na Ufal, com vários idosos e pessoas com comorbidades. Além disso, pela flexibilização de outras áreas, os jovens estão sendo os mais contaminados, estes que compõem a maioria dos alunos.
ESTUDANTES
Vale lembrar que atualmente a Ufal se encontra no período letivo excepcional, com aulas remotas e carga horária reduzida. Apesar das dificuldades enfrentadas no ensino à distância, o estudante Winícius Marques afirmou que a questão incerta da vacina, os problemas estruturais dos campus e do transporte público dificultam o retorno seguro.
“Acredito que o retorno em março seja inviável por conta das incertezas quanto à vacinação. Ainda nem sabemos qual será a vacina escolhida nem o mês exato que ela vai ser aplicada. Lembrando que a própria arquitetura de alguns prédios da Ufal não é favorável à circulação de ar, com as janelas das salas construídas em direções onde não passa vento. A baixa oferta de ônibus, quase todos lotados, também não é nada convidativa para um retorno em março”, disse Winícius.
Já para o discente Jeydson Silva, a retomada em março pode, sim, acontecer, desde que os protocolos sanitários sejam respeitados, ainda mais com o avanço das primeiras aplicações de vacinas contra a Covid-19.
“Acredito que podemos voltar para as aulas presencias na UFAL em março, é claro, atendendo todas as medidas preventivas recomendadas pelo Ministério da Saúde. Outro indício de que podemos voltar são os surgimentos das vacinas, já podemos ver que algumas delas têm uma taxa muito alta de eficiência, então será uma questão de pouco tempo para que elas cheguem a nossa cidade. Enfim, se a universidade implementar as medidas de segurança sanitária, não vejo problemas algum no retorno das aulas presencias em março”, opinou o estudante Jeydson.