Da Redação
O juiz aposentado Marcelo Tadeu, que sofreu atentado em 2009 e que as investigações da Polícia Federal apontam o delegado-geral Paulo Cerqueira como autor intelectual, falou sobre o assunto em coletiva hoje (09). O magistrado revelou seu sofrimento, a falta de apoio do Judiciário e como o coronelismo ainda impera em Alagoas.
Indignado e com a voz alta, ele cobrou o Paulo Cerqueira: “diga para quem o senhor fez isso?”, disse, completando: “Será que é isso que faz você ficar no poder por 10 anos?”
“Quem tem ou quem teria que dizer a mim, é você, Paulo Cerqueira, vossa senhoria tinha a obrigação de dar uma resposta, mas cuidou de maquiar o inquérito, inclusive na 17ª Vara, a vara que combatia todos os crimes, menos o meu”, desabafou.
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Marcelo Tadeu, no entanto, não se sente surpreso, dizendo que a linha de investigação segue o que suspeitava. Contando que “tinha certeza de que o assassinado seria eu”, o juiz lembrou sua atuação dura contra o crime organizado, como a prisão de membros da ‘Gangue Fardada, além de decisões contrárias a grande empresários do açúcar e cassação de mandato de prefeito.
A sorte, segundo ele, foi a entrada da Polícia Federal no caso, já que desde o início a Polícia Civil teria ignorado seus depoimentos, a exemplo de quando chegou ao conhecimento que a arma utilizada no crime era típica de policiais, como uso de bala .40, mas que não foi considerada no inquérito, tratado como crime passional.
“O senhor (Cerqueira) deve essa resposta ao povo alagoano, que repudia crimes de pistolagem. O alagoano não gosta disso. Agora, uma parte da elite, sim, gosta de resolver as coisas desse modo: está importunando? mata!. E isso continua em Alagoas”, completou.
Alvo do atentado que ocasionou a morte do advogado Nudson Harley, o juiz lembrou o homicídio do policial, no ano seguinte, Natan Simão, que seria uma queima de arquivo. A morte de Kléber Malaquias, em 2020 e ainda sem solução, também foi relembrada como mais um crime da pistolagem alagoana.
Críticas contra os poderes
O magistrado também fez duras críticas ao Poder Judiciário de Alagoas. Segundo ele, não houve apoio do Tribunal de Justiça, nem do Ministério Público, citando o nome de Alfredo Gaspar.
“A situação mexeu comigo muito, em especial na estrutura do Poder Judiciário. Eu não aguentava olhar mais para aquela estrutura. Eu tinha vergonha de estar lá e, sendo sincero, até nojo.”, disse Tadeu sobre o Judiciário alagoano.
As instituições foram duramente criticadas. Ele afirmou que até procurou o governador na época, Teotônio Vilela. “Esse crime não foi organizado, mas supero ganizado, jamais alguém conseguiria desvendar o crime, se não uma instituição de fora do estado, porque aqui dentro de Alagoas, eu terminaria como maluco”, reforçou.
Apesar do risco, Marcelo Tadeu finalizou proferindo que, como homem honesto, nunca teve medo e sempre andou desacompanhado de guardas. “Não tive, não tenho medo e nunca vou ter”.