Integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid decidiram investigar a ausência de vacinas para a aplicação da segunda dose da CoronaVac. Segundo levantamento do G1, neste domingo (2), oito capitais brasileiras suspenderam a aplicação da segunda dose devido a falta do imunizante.
A CPI da Covid foi instalada nesta terça-feira (27) no Senado Federal. A Comissão é responsável por apurar ações e omissões do governo federal e eventuais desvios de verbas federais enviadas aos estados para o enfrentamento da pandemia.
Nesta semana a CPI irá ouvir os ex-ministros e o atual titular da Saúde, senadores cobrarão explicações e soluções para a falha de planejamento da pasta.
O ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, será questionado porque não houve uma previsão confiável para a distribuição dessas doses.
“Isso evidencia uma total falta de planejamento. A CPI entrará nesse tema, tamanha a gravidade”, disse ao blog o senador Eduardo Braga (MDB-AM), integrante da CPI da Covid.
Já o ministro Marcelo Queiroga será cobrado a dar uma resposta rápida para a paralisia na vacinação de idosos que aguardam a segunda dose.
“O governo precisa dar uma resposta rápida a ausência de vacinas. Como não se previu um estoque para a segunda dose?”, reforçou o vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (AP-Rede).
Mudanças de orientação
De acordo com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, a interrupção é resultado da conduta de seu antecessor no comando da pasta, Eduardo Pazuello.
“[O atraso] decorre da aplicação da segunda dose como primeira dose”, afirmou. “Logo que houver entrega da CoronaVac, [o problema] será solucionado”, disse.
Inicialmente, os estados estocavam vacinas para garantir que todas as pessoas já imunizadas recebessem a segunda dose. Em fevereiro, no entanto, Pazuello mudou a orientação: determinou que todas as vacinas fossem aplicadas de imediato, sem a preocupação de guardar parte delas.
Foi um vaivém de regras: dias depois, o Ministério da Saúde voltou atrás e disse que os estados deveriam, sim, estocar a CoronaVac para garantir a segunda dose a todos. Em março, mais uma vez, a pasta mudou de opinião e orientou a aplicação de todas as vacinas, sem reservas.
“O ministério fez isso, mas nós somos dependentes da China para os insumos farmacêuticos ativos (IFAs). O erro foi ter feito essa orientação sem ter garantia de que a produção estava iniciada. Contar com IFA que nem saiu da China é uma situação complicada”, diz a epidemiologista Ethel Maciel.
Em abril, Queiroga foi ao Senado para dizer que a orientação mudou mais uma vez: desde então, os estados devem armazenar metade do estoque para garantir que o esquema vacinal de duas doses seja cumprido no intervalo correto (28 dias para a CoronaVac/Butantan e 3 meses para a de Oxford/Fiocruz).
G1/Gerson Camarotti