Uma auditoria do TCU (Tribunal de Contas da União) revelou que o presidente Jair Bolsonaro (PL) gastou R$ 21 milhões nos cartões corporativos da Presidência da República entre janeiro de 2019 e março de 2021. As informações foram divulgadas pela revista Veja.
Segundo a publicação, servidores do TCU analisaram arquivos dos chamados recursos de suprimento de fundos, dinheiro destinado a custear despesas de caráter secreto pagas com cartões corporativos.
Os auditores descobriram que, desde a posse de Bolsonaro até março de 2021, foram gastos R$ 2,6 milhões apenas na compra de alimentos para as residências oficiais do presidente e do vice Hamilton Mourão, uma média de pouco mais de R$ 96,3 mil por mês.
Os gastos de Bolsonaro com alimentação ultrapassam os de Michel Temer. Nos dois últimos anos de mandato, o ex-presidente usou R$ 2,33 milhões. O documento do TCU não detalha que tipo de alimento foi comprado com os cartões corporativos.
Um levantamento do deputado federal Elias Vaz (PSB-GO), usando dados do Portal da Transparência, mostram que Bolsonaro gastou R$ 4,2 milhões nos cartões corporativos entre 1º de abril e 5 de maio deste ano.
Bolsonaro gastou R$ 16,5 milhões em viagens
O maior volume de gastos sigilosos de Bolsonaro está relacionado a viagens, segundo o relatório do TCU publicado por Veja. Foram R$ 16,5 milhões em hospedagem, fornecimento de alimentação e apoio operacional.
A auditoria do tribunal também descobriu que ministros já viajaram a bordo do avião presidencial para aproveitar feriados fora de Brasília ou assistir a partidas de futebol em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Entre os nomes, estão Paulo Guedes (Economia), Fábio Faria (Comunicações), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral da Presidência).
A utilização da aeronave presidencial para transportar, em viagens de agenda privada, pessoas que não são seus familiares diretos, bem como pagamento de despesa de hospedagem de pessoas que não são autoridades ou dignitários, sinalizam aproveitamento da estrutura administrativa em benefício próprio. Tais situações afrontam os princípios da supremacia do interesse público, moralidade e legalidade.
Trecho do relatório do TCU
Sem citar nomes, a investigação também afirmou ser questionável o fato de uma aeronave presidencial ter sido usada para transportar convidados do casamento de Eduardo Bolsonaro em maio de 2019. O relatório também cita que parentes de Bolsonaro pegaram carona e tiveram hospedagem paga com recursos públicos em Guarujá no réveillon de 2021.
Para o TCU, o uso do avião presidencial para deslocamentos de convidados do presidente Bolsonaro pode implicar em crime de improbidade administrativa.
A auditoria do TCU também identificou despesas menores, como um reparo de um jet ski da Marinha que foi usado pela equipe presidencial no Carnaval de 2021.
O relatório foi encaminhado à Procuradoria-Geral da República, ao Ministério Público no Distrito Federal e à Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara dos Deputados. O Palácio do Planalto recebeu recomendações para que parte dos gastos de Jair Bolsonaro sejam mais controlados e que não tenham o rótulo “secreto”, de acordo com a revista.
Há duas semanas, o senador Flávio Bolsonaro (PL), filho do presidente, alegou que a falta de transparência com o uso dos cartões corporativos é “para garantir a segurança”.
UOL