Há verdades incômodas das quais alguns querem distância. Uma delas é que não há nenhuma sentença transitada em julgado contra Luiz Inácio Lula da Silva. Ele, portanto, goza dos benefícios decorrentes da presunção de inocência, prerrogativa que milita a favor de todo aquele que não sofreu uma condenação definitiva.
Se daqui para frente vier a responder por algum crime, Lula será considerado réu primário. Ele, portanto, é ficha limpa, está na corrida presidencial e lidera as intenções de votos nas pesquisas eleitorais, algumas das quais, inclusive, apontam sua vitória no primeiro turno.
Mas há mais verdades incômodas nessa questão. Se não para alguns, talvez para outros. A inocência jurídica de Lula não foi suficiente para anular a rejeição que lhe pesa sobre os ombros e nem as suspeições que lhe recaem sobre a cabeça. Há quem não vote em Lula sob nenhuma hipótese.
Outra verdade incômoda é que embora vários institutos apontem Lula na liderança da corrida presidencial, inúmeras vezes o resultado das urnas contrariou pesquisas hegemônicas semelhantes, quer seja por equívocos cometidos na utilização da margem de erro, ou pela má utilização dos dados coletados e até mesmo pela elevada quantidade de eleitores indecisos nos dias que antecedem a votação. Pesquisa eleitoral aponta tendência, mas não garante vitória. Não é possível, portanto, descartar a possibilidade dessa disputa eleitoral se arrastar para um segundo turno conturbado e imprevisível.
Também é uma triste verdade incômoda que a união da esquerda funciona melhor quando se trata de causas humanísticas, ações comunitárias e movimentos sociais. Normalmente, nos certames eleitorais para Presidente da República, candidaturas próprias inviabilizam a criação de uma frente política ampla e única de esquerda, com reais chances de definir as eleições já no primeiro turno. Aliás, nem mesmo a tradicional migração de votos entre candidatos do mesmo campo político é certa, já que a transferência de votos por apoio declarado dos derrotados no primeiro turno está cada vez mais rara.
Então fica o alerta. Cruzar os braços, votar no seu candidato mal colocado e esperar pelo segundo turno pode ser fatal para o combate às pautas antidemocráticas. Talvez não haja outra oportunidade para reverter o avanço das ideias e práticas inconstitucionais e para pôr fim à verborragia preconceituosa e perigosa que se instalou no país.
Diante de tantas verdades incômodas, o voto útil se impõe como caminho necessário para que a eleição presidencial seja definida logo no dia 02 de outubro, eliminando os riscos de um segundo turno marcado pelas habituais negociatas, favores escusos e por um componente novo e perigoso: a violência política generalizada.