Inconformados com a vontade das urnas, muitos Bolsonaristas questionam o desempenho do Presidente no primeiro turno das eleições. Alguns chegam até mesmo a especular a existência de um suposto algoritmo no sistema eleitoral preparado para suprimir votos dados ao atual Presidente.
Essa suspeita fantasiosa é difícil de ser levada a sério quando se olha os resultados das urnas. Basta constatar o grande êxito das candidaturas de direita em todo o país para comprovar que se tal algoritmo entrou em ação, ele estava direcionado apenas para o cargo de Presidente da República, já que as demais escolhas feitas pelo eleitor de direita foram respeitadas. Mas se a intenção era fraudar, por que haveria uma fraude parcial direcionada apenas a um candidato e não aos partidos que o apoiaram? Não faz sentido. Trata-se, portanto, de mais uma teoria conspiratória sem qualquer fundamentação, ou se não tanto, apenas uma fake news barata.
Mas então o que explicaria o resultado expressivo das candidaturas de direita em todo o Brasil não ter necessariamente determinado a vitória de Bolsonaro no primeiro turno? A lógica é simples e funciona também para o lado contrário. Nem todo esquerdista é petista ou Lulista. Há quem se recuse a votar em Lula, optando por candidatos do mesmo campo político ou até mesmo votando em branco. Do mesmo modo, nem todo conservador é Bolsonarista. Há milhares deles que não aprovaram o comportamento, as declarações e o tumultuado governo feito pelo Presidente Jair Bolsonaro.
Há uma parcela importante de conservadores que não admite, por exemplo, o culto à personalidade do Presidente Bolsonaro, achando um exagero frenético chamá-lo de “mito”. Do mesmo modo, há os que não concordam com a politização dos cultos religiosos. Outras dissidências importantes rechaçam a onda armamentista incentivada pelo Presidente; as declarações de apoio à ditadura e à tortura; as falas homofóbicas, machistas, sexistas e preconceituosas, de uma maneira geral. Enfim, por razões diversas e muito bem fundamentadas, nem todo conservador é Bolsonarista.
Embora esses fatores possam explicar que votos dados por conservadores à candidatos mais moderados possam ter sido negados ao Presidente Bolsonaro, será pouco provável que essa dissidência seja integralmente mantida no segundo turno eleitoral, já que o voto contrário ao lulopetismo ainda é uma característica muito marcante entre os eleitores do campo político de direita. Mas também não é de se descartar a hipótese de que parte desse eleitorado não compareça às urnas no segundo turno, numa abstenção que, por menor que seja, poderá ser fatal para a reeleição de Bolsonaro. É esperar e ver o tamanho do estrago.