Ana Júlia Gomes e Natália Barros
Na última segunda-feira (22), integrantes do MUVB (Movimento Unificado das Vítimas da Braskem) renunciaram aos cargos de coordenadores. Neirevane Nunes, Dilson Ferreira e Alexandre Sampaio, presidente da Associação dos Empreendedores Afetados pela Mineração da Braskem, comunicaram a renúncia por meio de uma carta.
Segundo o grupo, um dos motivos do afastamento foi o uso político da entidade sem que houvesse consenso entre os representantes do movimento.
“A clara partidarização pró-governo do MUVB, sobretudo neste ano eleitoral de 2024, torna impossível a nossa permanência na Associação do Movimento Unificado das Vítimas, pois isso enfraquece o enfrentamento devido à confusão de interesses políticos e partidários, que passam a ser mais importantes que o OBJETIVO inicial do movimento de buscar reparação integral das vítimas e a punição dos culpados, entre eles, integrantes do governo de Alagoas, como o IMA, e não apenas a gestão do atual prefeito JHC”, destacou.
O comportamento machista direcionado a mulheres que exercem liderança no movimento, a exemplo da Neirevane Nunes, que atuava como coordenadora de Meio Ambiente, além da omissão aos ataques sofridos por Alexandre Sampaio, como ameaças de morte e campanhas reiteradas de difamação na internet, também foram motivos apontados.
De acordo com Neire, foram anos de dedicação ao movimento para, posteriormente, ser alvo de desrespeito, “recebendo ataques internos de companheiros de luta com acusações injustas, como a de ser oportunista, de querer aparecer pelo fato de ser convidada para entrevistas e eventos locais e nacionais representando as vítimas, onde sempre houve convites ao coletivo que eram direcionados para aqueles que poderiam assumir a demanda”.
Sobre a falta de apoio a Alexandre Sampaio, o grupo lamenta que não tenha sido lançada sequer uma nota de solidariedade a ele. “Sete dias antes de ALEXANDRE SAMPAIO depor na CPI da Braskem, foi criado um perfil falso só para denegrir [sic] a sua imagem e ‘assassinar sua reputação’ como presidente da Associação dos Empreendedores, como empresário, atingindo sua família, sua empresa, seus fornecedores”, aponta trecho da carta de renúncia.
O arquiteto e professor Dilson Ferreira, que também é vice-diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), afirma que, apesar da renúncia dos cargos de dirigentes do MUVB, o apoio ao movimento, às vítimas e o trabalho que é realizado, continuam, porém, de forma independente.
“Um coletivo que luta por justiça não pode cometer injustiças com seus companheiros, coletivo de luta não é espaço para disputa de ego (sobre quem fala mais ou fala menos na imprensa), não se pode se distanciar do maior objetivo que é de lutar por reparação justa para todos os afetados pelo crime da Braskem”, finalizou Neirevane, co-fundadora do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem.
Leia nota do MUVB:
“Na noite de ontem (22/04/2024), com surpresa, e sem qualquer discussão prévia, os integrantes do MUVB – Associação do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem tomaram conhecimento de uma “Carta Renúncia” de três de seus membros, que além das inverdades publicadas internamente, viram essas narrativas nocivas serem publicadas na imprensa local.
A “Carta Renúncia”, sem uma prévia discussão interna, e sua publicização para a imprensa, é um grande desserviço para a causa do MUVB, e uma vitória para a Braskem, pois mostra uma profunda imaturidade democrática dos seus signatários, e um desejo de impor a qualquer custo seus pontos de vista.
O MUVB continuará em sua jornada de luta pelos direitos das vítimas por reparação integral quanto aos danos materiais e imateriais que todos os atingidos tenham sofrido, pela realocação das comunidades remanescentes dos Flexais, das Quebradas, da Marquês de Abrantes, da Vila Saem e do Bom Parto, bem como, por reparações aos danos sofridos dos moradores das áreas do entorno que vai da Chã de Bebedouro ao Farol”.