Redação
A médica Lizianny Tenório Toledo, de 26 anos, única sobrevivente do acidente que vitimou a também médica Flávia Emanuelly Alves e o estudante Lucas Queiroz na última sexta-feira (2), em Flexeiras, relatou pela primeira vez sobre o fato em questão, em vídeo gravado ao Fique Alerta, da TV Pajuçara.
Segundo Lizianny, que foi estagiária de Flávia em Joaquim Gomes, para onde o trio estava se dirigindo, tratava-se de mais um dia em que ela ia dar plantão no hospital da cidade e Flávia iria para o posto onde trabalhava, com Lucas indo para aprendizado.
“Foi um dia normal da gente sair de casa, ela me buscou, e tinha o Lucas também. Ele era um doutorando, falou comigo na segunda-feira, falando: Lizzy, quando é que posso ir lá acompanhar vocês? Eu disse para ele combinar com a menina que organiza as datas para ir acompanhar”, iniciou.
“Ele disse: vou na sexta. A gente combinou, eu disse a ele que ia de carona com a Flávia. Ele perguntou se podia ir com a gente, eu disse que sim. Ele veio ao meu encontro, a Flávia pegou a gente e fomos”, completou Lizianny.
Momento
“Estávamos conversando sobre residência, onde eu queria fazer. Eu tinha dito que queria fazer em outro estado, mas sem querer morar nesse estado (cogitado). Aí ela disse: fique aqui pertinho da gente. Ela contando as coisas que tinha conquistado nesse um ano e meio de formada.”
“Ela estava muito feliz, extremamente realizada, sabe? A gente tinha acabado de falar sobre residência e ela tinha botado uma música, e eu disse: essa música me lembra quando eu era adolescente. Ela disse: vou te mostrar minha playlist das antigas”.
“Foi na hora que mudou para uma música e foi quando veio a curva. A gente estava do lado esquerdo da faixa, o caminhão estava do lado da direita. Só me lembro que na hora da curva, deu a primeira pancada atrás de mim, que era onde estava o Lucas”.
“Na primeira pancada, já não ouvi mais a voz dele, só ouvi o grito de Flávia e eu gritei por ela. O carro dela foi para um lado, ela voltou. Nessa hora que voltou, o caminhão voltou a tombar em cima da gente. E arrastou ainda um pouco. Depois disso não ouvi mais a voz de ninguém”.
“Gritei por eles, mas ninguém mais falou comigo. Só consegui olhar para o céu… Só consegui olhar para o céu mesmo. Ali eu já tinha entendido que eles tinham ido, porque ninguém mais falava comigo”.
“Depois foi tudo muito rápido. O motorista do caminhão veio, outras pessoas apareceram tentando ajudar, tentando me tirar dali. Estava tentando entender aquela situação e, ao mesmo tempo, fazer alguma coisa, mexia na Flávia, que estava ao meu lado”.
Resgate
“Tentei mexer na Flávia ainda, mas ela não se mexia. O Lucas, eu não conseguia me virar para vê-lo, porque tinha uma barra de ferro. Fiquei literalmente no meu lado um cilindro do caminhão, na minha frente tinha um monte de ferro, na minha cabeça e nas minhas costas também, ao meu lado tinha um pneu”.
“E eu só queria sair dali. Foi quando o motorista do caminhão veio, tentou me acalmar e me tirar dali. Foi quando as pessoas vieram me ajudar. Falei que a gente trabalhava no hospital de Joaquim Gomes, tentaram entrar em contato”.
“Foi quando tudo foi acontecendo como vocês viram. Confesso que ainda estou num misto de sentimentos. Acho que no dia eu não tive noção do tamanho que foi aquilo, do quão devastador foi”.
“Na hora do acidente, depois que chamaram o Samu, a enfermeira me deu a mão, a Adriana, ela estava com a pulseira de Nossa Senhora da Consagração. Ela perguntou: ‘Como é que você está?'”.
“Não consegui responder como eu estava, só consegui olhar para a pulseirinha dela e falar: ‘Você é consagrada?’. Ela disse: ‘Eu sou’. Mostrei a minha pulseirinha também, que estava usando, e fiz: ‘Mulher, eu também sou'”.
“Ela falou: ‘Nossa Senhora me mandou aqui’. Eu disse: ‘Meu Deus, você me deixou viva e ainda manda gente para cuidar de mim’. Ela disse: ‘Eles não fazem serviço incompleto, Deus só faz serviço completo'”.
“Eu me vi morrer, mas também me vi renascer ali. Sem dúvidas, não tem explicação. Olhando aquelas fotos, não era para eu estar aqui. Não era, não era, não era. Mas Deus foi tão bom, tão bom… Não que Ele tenha sido ruim para os outros, mas Ele tem algo para mim, que eu ainda vou descobrir”.
“Ele não me deixou ir. Sempre falo assim: ‘Mesmo diante das minhas imperfeições, mesmo indigna, infiel, Deus continua ali cumprindo a promessa D’Ele’. Se Ele me deixou aqui, Ele tem algo que ainda quer de mim. E eu prometo do fundo do meu coração ser alguém como a Flávia e ter o entusiasmo do Lucas”.