Uma cena chamou a atenção daqueles que acompanharam na última sexta-feira (6) a festa em homenagem à primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, organizada pelo Prerrogativas, que reúne advogados e pesquisadores da órbita de Lula.
A presença de diferentes padrinhos fazendo lobby pela escolha dos próximos ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) não passou despercebida por aqueles que acompanham os bastidores da disputa pelas duas vagas em aberto na Corte.
Em um desses momentos de lobby explícito, o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, mais conhecido como JHC, e o ministro do STJ Humberto Martins, que é alagoano, passaram alguns minutos numa conversa ao pé do ouvido com o presidente, que indicou o ministro para o tribunal em 2006.
Tanto JHC quanto Martins estão engajados pessoalmente na candidatura da procuradora Maria Marluce Caldas Bezerra, do Ministério Público de Alagoas, para uma das vagas abertas no STJ para representante do MP.
Quem testemunhou a cena de perto não teve dúvidas de que os dois aproveitaram a oportunidade para fazer lobby por Maria Marluce, que é tia do prefeito. “JHC e o ministro Humberto Martins foram espertos. Aproveitaram a primeira oportunidade e foram lá defender a candidata deles”, disse ao blog um interlocutor de Lula presente ao evento.
Outros dois adversários de Maria Marluce – o subprocurador Carlos Frederico Santos e o procurador de Justiça do Acre, Sammy Barbosa Lopes, este apoiado pelo ministro do STJ Mauro Campbell – também prestigiaram o evento, mas não conseguiram chegar perto de Lula. A procuradora não estava lá.
Conforme informou o blog, JHC está tão empenhado na candidatura da tia – e de olho em verbas federais – que já articulou uma troca de partido para poder integrar a base do governo Lula e facilitar a indicação de Maria Marluce. O prefeito se reelegeu pelo PL, mas já acertou a ida para o PSD de Gilberto Kassab, Rodrigo Pacheco e Eduardo Paes.
Disputa acirrada
Em uma votação secreta realizada pelos ministros do STJ em outubro, a procuradora alagoana surpreendeu o Palácio do Planalto ao angariar mais apoio que o vice-procurador-geral da República, Hindemburgo Chateaubriand, e que a ex-chefe da PGR Raquel Dodge na definição da lista tríplice encaminhada ao governo.
No governo Lula, o elo de JHC com o PL é considerado por integrantes do primeiro escalão como um obstáculo à indicação da procuradora, que tem sido associada ao bolsonarismo nos bastidores por conta da filiação partidária do sobrinho.
Procurado pelo blog, Humberto Martins informou que compareceu ao evento do Prerrogativas “a convite do grupo e que nada conversou a respeito de nomeações”. Já o prefeito de Maceió e a procuradora não se manifestaram.
Segundo integrantes do governo Lula, a disputa pelas vagas está tão embaralhada que a escolha só fica para o ano que vem.
O próprio STJ já sabe disso e convocou no último dia 6 um desembargador do Rio Grande do Sul para ocupar temporariamente uma das vagas em aberto, em mais um sinal de que os futuros indicados não devem ser escolhidos tão cedo.
No evento do Prerrogativas, Janja repetiu o mantra de que “a gente precisa de mais mulheres do Judiciário, para que as mulheres da sociedade se sintam representadas”. Até agora, a primeira-dama não se meteu na disputa do STJ, mas seu eventual apoio tem sido visto pelos candidatos como um dos possíveis fatores que podem destravar a disputa.
/O Globo