Após quatro anos à frente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) tem se concentrado nos bastidores da política, mirando uma candidatura ao Senado em 2026.
Com o fim de seu mandato como presidente da Casa, Lira trocou as articulações de alto nível por encontros estratégicos com prefeitos e aliados políticos em Alagoas, estado onde pretende consolidar sua base eleitoral para a disputa.
Seu afastamento das negociações para assumir um ministério no governo de Luiz Inácio Lula da Silva também é reflexo desse cálculo eleitoral. Embora aliados tenham defendido sua nomeação para a Esplanada, possivelmente para o Ministério da Agricultura, o desgaste da popularidade do governo Lula esfriou essa possibilidade.
De acordo com o Datafolha, quatro em cada dez brasileiros classificam a gestão como ruim ou péssima, o que contribuiu para que Lira optasse por um caminho mais independente.
Nas últimas semanas, Lira intensificou reuniões políticas. No início do mês, recebeu prefeitos e aliados em sua fazenda Santa Maria, localizada a 130 quilômetros de Maceió.
Os encontros contaram com políticos do PP e de outras siglas, incluindo o MDB, partido de seu adversário Renan Calheiros. Entre os presentes estavam cerca de 15 prefeitos emedebistas que atualmente apoiam o mandato de Lira como deputado federal.
Segundo relatos, Lira reforçou seu compromisso com a base, prometendo visitas regulares aos municípios. No entanto, evitou declarações diretas sobre sua candidatura ao Senado.
“O resumo é que ele disse: ‘Estamos juntos e conto com vocês. Não temos nenhuma posição definida, mas, quando for oportuno, vou conversar com vocês’”, revelou o prefeito de São Miguel dos Campos, Gilberto Clemente (MDB).
Além dos encontros na fazenda, Lira participou de eventos institucionais em Alagoas, incluindo um encontro da Associação dos Municípios do estado, ao lado do prefeito de Maceió, JHC (PL), e a posse do presidente do Tribunal de Justiça alagoano, desembargador Fábio José Bittencourt Araújo.
Mesmo com o foco na articulação local, Lira mantém influência nacional. Ele tem recebido convites para palestras e eventos, principalmente na área econômica.
Recentemente, participou de um debate promovido pela Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca), em Brasília, onde reafirmou seu compromisso com um ambiente favorável aos negócios no país.
Na estrutura partidária, Lira tem mantido proximidade com a cúpula do PP. Participa de reuniões com o presidente da legenda, Ciro Nogueira (PI), além da senadora Tereza Cristina (PP-MS) e do deputado Doutor Luizinho (PP-RJ).
Nogueira deseja que Lira se envolva mais no crescimento do partido e já o convidou para assumir a presidência da federação partidária, caso o projeto avance.
Na Câmara, Lira tem evitado os holofotes. Ele não tem participado das reuniões lideradas por seu sucessor, Hugo Motta (Republicanos-PB), mas continua presente em encontros reservados.
Entre os participantes dessas reuniões restritas estão os líderes do MDB, Isnaldo Bulhões (AL), e do PP, Doutor Luizinho (RJ), ambos figuras centrais nas articulações políticas da Casa.
Nos bastidores, não há sinais de que Lira busque ocupar de imediato cargos de destaque, como presidências de comissões ou relatorias importantes, como a do orçamento.
Segundo aliados, o ex-presidente da Câmara deseja, ao menos neste primeiro momento, reduzir seu nível de exposição e evitar desgastes políticos.
No plenário, Lira tem sido discreto. Desde o fim de sua gestão, não registrou votos ou apresentou novos projetos. Seu dia a dia tem se concentrado em seu novo gabinete, reformado especialmente para ele no prédio principal da Câmara.
O espaço, maior que os gabinetes comuns, conta com banheiro privativo e outras comodidades, sendo reservado a ex-presidentes da Casa.
A decoração do gabinete reflete sua trajetória política. Na entrada, um quadro com um esboço da arquitetura do Congresso Nacional divide espaço com revistas que destacam sua atuação como deputado. Pequenas salas internas garantem discrição para reuniões estratégicas.
Foi nesse ambiente que Lira se reuniu recentemente com Isnaldo Bulhões, enquanto Lula acertava a saída de Alexandre Padilha do Ministério das Relações Institucionais para assumir a Saúde.
O afastamento do cargo de presidente da Câmara tem permitido a Lira retomar um perfil mais descontraído. Segundo o deputado Júlio Arcoverde (PP-PI), presidente da Comissão de Orçamento, o alagoano “está mais leve, voltou a ser brincalhão”.
Apesar de um ritmo de trabalho mais reservado, Lira continua ativo. Servidores que trabalham em seu gabinete afirmam que ele despacha mesmo em dias em que a Câmara costuma estar vazia, como às segundas-feiras.
Seu discurso de despedida do cargo, no dia 1º de fevereiro, reforçou seu compromisso com a articulação política. “Não cheguei aqui sozinho e não saio daqui sozinho”, afirmou na ocasião.
A movimentação de Lira deixa claro que seu foco está na construção de sua candidatura ao Senado, evitando embates desnecessários e mantendo suas bases mobilizadas.
À medida que 2026 se aproxima, sua estratégia de fortalecimento político em Alagoas e sua postura cautelosa na cena nacional podem definir seu futuro na política brasileira.
/Agência