A Justiça de São Paulo aceitou a denúncia do Ministério Público (MP-SP) contra os dois policiais militares que mataram um homem natural de Alagoas em situação de rua com tiros de fuzil no Centro da capital paulista.
Com a decisão, os PMs Alan Wallace dos Santos Moreira – tenente da Força Tática – e o soldado Danilo Gehring se tornaram réus por homicídio qualificado.
Segundo a denúncia do promotor Enzo Boncompagni, o homicídio praticado pelos policiais tem ainda dois agravantes processuais: qualificadoras de motivo torpe e impossibilidade de defesa da vítima, que já estava rendida e não ofereceu resistência.
Imagens de câmeras corporais mostram que policiais militares mentiram ao justificar a execução de Jeferson de Souza durante uma abordagem em São Paulo.
Jeferson levou três tiros de fuzil, um deles na cabeça. O crime aconteceu em 13 de junho no Viaduto 25 de Março.
No dia do crime, os policiais alegaram que a vítima tinha reagido a uma abordagem da equipe policial e havia tentado retirar a arma de um dos agentes antes de ser baleado.
A denúncia do MP-SP foi acolhida pela juíza Luciana Scorza, que também já tinha decretado a prisão preventiva dos dois policiais militares.
A defesa do sargento Alan disse que “a ação policial decorreu de legítima defesa e que demonstrará isso ao tribunal do júri”. A defesa do soldado Danilo não foi localizada.
Procurada, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) afirmou que repudia a conduta dos PMs e que um inquérito policial está em andamento na Corregedoria da PM.
Vítima chorava
O vídeo mostra que Jeferson foi abordado por seis PMs por volta das 20h20, quando desceu de uma árvore e foi revistado debaixo do viaduto.
Em seguida, foi levado para trás de uma pilastra, onde se sentou no chão, de pernas cruzadas, e passou a ser interrogado.
O soldado Danilo, que estava com a câmera corporal ligada, chegou a tirar uma foto do homem e a enviou para diferentes contatos pelo celular.
Pelas imagens, é possível ver Jeferson com as mãos para trás, chorando. Um policial segura um fuzil ao lado dele. Em determinado momento, a vítima é obrigada a se virar de costas.
Pouco depois, o soldado Danilo cobre a lente da câmera com a mão e desvia o equipamento. Segundos depois, Jeferson aparece morto, com ferimentos de fuzil na cabeça, tórax e braço.
Após o crime, os PMs disseram na delegacia que Jeferson era procurado por ameaça e estupro, mas não apresentaram nenhum documento para comprovar a identidade dele.
Dois meses depois, a Polícia Civil ainda não confirmou o histórico criminal da vítima nem conseguiu identificá-lo pelas digitais.
Em julho, o porta-voz da Polícia Militar de São Paulo classificou como “inaceitável” e “vergonhosa” a conduta dos policiais.
Segundo o coronel Emerson Massera, chefe do Centro de Comunicação Social da PM, as imagens desmentem a versão dos policiais e mostram que a vítima já estava rendida.
“O vídeo [das câmeras corporais] contraria completamente a versão apresentada pelos policiais. Ele [a vítima] estava tranquilo, conversando com os policiais e, do nada, o tenente efetua três disparos de fuzil contra essa pessoa”, afirmou.
Para ele, o episódio “envergonha” a corporação.
/G1