O jornalista Mino Carta morreu, nesta terça-feira (2/9), aos 91 anos. Ele estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Sírio-Libanês tratando uma série de problemas de saúde. As informações foram divulgadas pelo jornal CartaCapital, empresa de comunicação fundada por Mino em 1994.
Mino Carta era italiano, nascido em Gênova, e integrou a terceira geração de jornalistas da família, que enfrentou os desafios do fascismo de Mussolini. O avô, Luigi Becherucci foi diretor do jornal genovês Caffaro, mas perdeu o cargo durante a perseguição fascista; já o pai de Mino, Giannino foi preso em 1944 por fazer oposição a Benito Mussolini. Ele conseguiu fugir meses depois. Com o fim da Segunda-Guerra, a família de Mino veio para o Brasil.
A história de Mino no jornalismo começa aos 16 anos, após o pai dele ser demando para um trabalho que não queria realizar. Giannino deveria escrever sobre os preparativos do Brasil para a Copa do Mundo de 1950. Como ele não gostava de futebol, oferece a empreita ao filho que questionou qual seria o pagamento. Ao saber o valor pensou “posso comprar um terno azul com esse dinheiro” e a partir dali não deixou de escrever mais. Mino também era artista plástico e ilustrador.
Mino começou cursar direito, mas o abandonou na metade por entender que era um curso “primitivo”. Em 1956, a família retornou para Itália onde Mino começou a trabalhar como jornalista e correspondente. Anos depois, o pai de Mino volta ao Brasil para assumir o comando da editoria de internacional do Estado de São Paulo e o irmão de Mino, Luiz, assume a editora Abril. Por insistência da família, Mino aceitou o desafio de comandar a revista Quatro Rodas no Brasil. A publicação que já era um sucesso na Itália, teve grande destaque também no Brasil. Depois, Mino assumiu a editora de esportes do Estadão. Mino Carta também atuou na criação do Jornal da Tarde das revistas Veja e IstoÉ. Naquela época, em 1968, ele começou a ter problemas com a ditadura militar que se irritava com as capas elaboradas e autorizadas por Mino Carta.
Em 1994, Mino Carta criou a CartaCapital e dizia se orgulhar do produto final sendo “a melhor revista que criou”. Inicialmente a publicação era mensal, mas em seguida, passou a ser quinzenal. Em circulação até os tempos atuais, a CartaCapital acabou de completar 31 anos e segue com as publicações impressas, além do conteúdo online.
Em 2024, Mino Carta foi destaque no livro eletrônico “Mino Carta Sem fé nem medo, Memória do Jornalismo Brasileiro Contemporâneo”, escrito por Lira Neto. A entrevista aborda aspectos da vida pessoal e profissional de Mino, que na verdade recebeu outro nome no batismo. “Meu nome é Demétrio, o mesmo de meu avô paterno. Mas não gosto dele. Acho horrível. Sobretudo porque evoca a memória de um “avô-patrão”, algo típico dos varões sardos (naturais dailha da Sardenha), sempre dispostos a manter o comando da família de maneira abrupta, às vezes violenta. […] Tão logo pude, me livrei desse nome, do qual poucos têm conhecimento, o que, na verdade, me deixa contente. Recebi o apelido Mino de meu pai, Giannino Carta, grande jornalista.”
Em 2014, a Câmara dos Deputados produziu um documentário que conta a trajetória de Mino Carta no Brasil e destaca como ele se tornou referência no jornalismo brasileiro.
Manifestações de pesar pela morte de Mino Carta
Aloizio Mercadante, Presidente do BNDES – Recebo com tristeza a informação sobre a morte do jornalista Mino Carta. Italiano de nascimento, Mino sempre foi uma voz forte e pujante do jornalismo brasileiro, tendo uma vida dedicada ao Brasil e à democracia. Ao fundar a Carta Capital em 1994, o jornalista inovou e abriu espaço para a pluralidade de pensamento nas publicações semanais, sendo um dos precursores da mídia independente no país. Neste momento de tristeza, manifesto minha solidariedade e deixo meu abraço fraterno a todos os amigos, admiradores e familiares de Mino, especialmente à filha e também jornalista Manuela, que segue dando continuidade ao legado do pai.
/Correio Braziliense