O presidente Lula abre nesta segunda-feira (8), a partir das 9h, a cúpula virtual do Brics, em um momento de acirramento das tensões comerciais e políticas com os Estados Unidos. O encontro, convocado pelo Brasil no exercício da presidência rotativa do bloco, busca alinhar respostas ao tarifaço de 50% imposto pelo governo Donald Trump sobre produtos brasileiros e de outros países do grupo, além de discutir reformas em instituições multilaterais como a Organização Mundial do Comércio (OMC).
Participam da reunião representantes dos 11 países que compõem atualmente o Brics: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia, Irã e Arábia Saudita.
Xi Jinping e Vladimir Putin
Entre os líderes esperados estão o presidente da China, Xi Jinping, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin. O Kremlin confirmou oficialmente a participação do líder russo, e Pequim anunciou que Xi fará um pronunciamento durante a sessão. A presença de ambos amplia o impacto político do encontro, que ocorre em meio às críticas crescentes de Trump ao bloco.
A expectativa é que Lula faça a fala de abertura, ressaltando a defesa da soberania e do multilateralismo, e em seguida os demais chefes de Estado apresentem suas posições.
OMC e multilateralismo no centro do debate
A reunião deve dedicar espaço à discussão de uma reforma estrutural da OMC, paralisada há anos em seu sistema de solução de controvérsias devido a vetos sucessivos dos EUA na indicação de juízes. O Brasil vem defendendo uma “refundação” da instituição, com mecanismos mais modernos e flexíveis que contemplem os interesses dos países em desenvolvimento e reduzam a vulnerabilidade de negociações bilaterais assimétricas.
Segundo o chanceler Mauro Vieira, o governo brasileiro tem articulado uma frente com outros países afetados por medidas protecionistas de Washington para impulsionar a pauta.
Tarifaço e defesa da soberania
O tarifaço imposto por Trump em agosto atingiu principalmente Brasil e Índia, duas das maiores economias do Brics. O presidente norte-americano chegou a ironizar a aproximação do bloco com a China, descrevendo-o como “uma pedra no sapato” dos EUA.
Auxiliares do Planalto indicam que o discurso de Lula será duro em defesa da soberania nacional, mas cuidadosamente calibrado para evitar a leitura de uma provocação direta à Casa Branca, de forma a não oferecer pretextos para novas sanções.
COP30 na pauta paralela
Além da agenda econômica e comercial, Lula deve aproveitar a reunião para reforçar o convite à participação ativa dos países do Brics na COP30, que será realizada em novembro de 2025, em Belém (PA). O Brasil pretende lançar no evento o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, voltado a financiar a preservação de biomas em países em desenvolvimento.
Embora não esteja prevista uma declaração conjunta oficial, o governo brasileiro deve divulgar uma nota ao fim da videoconferência, detalhando os pontos tratados. A intenção é marcar posição contra medidas unilaterais dos EUA e reafirmar o compromisso do Brics com um multilateralismo mais equilibrado.
/Congresso em Foco