Redação*
Uma reportagem do Fantástico expôs, neste domingo (5), um esquema milionário de rifas e sorteios ilegais que movimentava as redes sociais em Maceió. Segundo as investigações, a organização criminosa faturou cerca de R$ 33,7 milhões com apostas manipuladas, enganando milhares de pessoas que participavam diariamente desses sorteios.
O grupo seria liderado por Kleverton Pinheiro de Oliveira, de 40 anos, mais conhecido como Kel Ferreti, um ex-policial militar que se apresenta hoje como “empreendedor digital” e guru de sucesso nas redes.
Nas redes sociais, Kel Ferreti vendia também cursos não regulamentados, que prometiam ensinar como obter lucro em jogos online. Um negócio que fez Kel faturar R$ 400 mil num único mês.
Seu estilo de vida era marcado por imóveis luxuosos, carros importados e viagens internacionais. Para o Ministério Público de Alagoas, o estilo de vida do influenciador é fruto de um esquema criminoso.
“Neste tipo de jogo, não há nenhum tipo de controle”, aponta Cyro Blatter, promotor e coordenador do Grupo de Atuação Especial em Sonegação Fiscal do MP de Alagoas (Gaesf/MP-AL).
Laís Oliveira, uma influenciadora com cinco milhões de seguidores, é apontada na investigação como peça central na engrenagem, fazendo mais do que divulgar os sorteios nas redes.
- A quadrilha divulgava números de uma rifa. Alguns dos bilhetes dariam prêmios de dezenas de milhares de reais. Mas a quadrilha reservava esses bilhetes, fazendo com que as pessoas comprassem números que não seriam premiados, chegando a lucrar milhões de reais a cada ação.
De acordo com o Ministério Público, de janeiro a abril de 2024, Laís Oliveira recebeu quase R$ 1 milhão de uma empresa de Kel Ferreti. Nesse mesmo período, o marido de Laís, o criador de conteúdo digital Eduardo Veloso, recebeu R$ 456 mil.
Em dezembro do ano passado, Laís e Eduardo foram presos em Fortaleza, numa operação do Ministério Público, que revelou a ligação do casal com as rifas ilegais. Eles foram soltos dias depois.
Em nota, a defesa de Laís Oliveira e Eduardo Veloso nega as acusações e afirma que “não teve acesso aos áudios mencionados”. Os advogados do casal alegam ainda que eles “atuam como influenciadores digitais”, cuja participação “se restringiu à prestação de serviços de publicidade”.
Ainda em dezembro do ano passado, Kel Ferreti foi preso no apartamento onde mora, em Maceió. Na Operação Trapaça, os agentes apreenderam joias, telefones celulares e cerca de 20 mil reais em espécie.
Histórico criminoso
Em dezembro de 2023, o então policial militar Kleverton Pinheiro de Oliveira foi expulso da corporação após filmar e divulgar o próprio voto nas redes sociais, em 2022, o que é proibido pela lei eleitoral.
Além do crime eleitoral, Kel Ferreti foi denunciado por um caso de estupro, ocorrido em junho do ano passado, mas que só veio à tona em dezembro, dias depois da prisão do ex-PM na Operação Trapaça. A vítima do estupro é uma das apostadoras enganadas.
Kel Ferreti, que já estava preso pelos jogos ilegais, foi condenado por estupro em primeira e segunda instâncias, com a pena de 10 anos, em regime fechado. Sete meses depois, em agosto de 2025, a Justiça autorizou que Kel Ferreti deixasse a prisão e baixou a pena para 8 anos. Em Alagoas, por causa da falta de presídios semiabertos, presos podem ficar em casa, com saídas previamente autorizadas.
Depois que foi solto, por determinação da Justiça, o ex-PM passou a usar tornozeleira eletrônica. A única restrição é não se aproximar a menos de 500 metros da vítima. Kel Ferreti pode usar as redes sociais, frequentar bares e restaurantes, e aproveitar tranquilamente as praias de Maceió.
A defesa de Kel Ferreti afirmou, em nota, que ele não é dono de nenhuma plataforma de apostas e que sua atuação se limita à divulgação e publicidade. Sobre o caso de estupro, Kel Ferreti nega as acusações e diz que vai recorrer na Justiça.
/com G1