Redação
A discussão sobre o afundamento de solo em Maceió ganhou novos contornos após a divulgação do Relatório Independente que aponta fragilidades na metodologia adotada pelo Município para monitorar os riscos relacionados ao afundamento do solo.
O documento foi elaborado, entre outros especialistas, pelos pesquisadores Mahdi Motagh, do Centro de Pesquisas Alemão GFZ e da Leibniz University Hannover, e Magdalena Vassileva, PhD, que têm histórico de colaboração direta com a Prefeitura e com órgãos da Defesa Civil.
Os dois estiveram em Maceió entre 2022 e 2023 a convite do próprio Município. À época, a gestão arcou com transporte e hospedagem de Motagh, enquanto ambos se reuniram com o coordenador da Defesa Civil de Maceió, Abelardo Nobre, com representantes da Defesa Civil Nacional e com o prefeito JHC. Posteriormente, participaram de novos encontros na Alemanha em uma comitiva oficial brasileira. Todo esse intercâmbio foi registrado em imagens e documentos.
A participação dos pesquisadores, agora autores do relatório que aponta necessidade de aprimoramentos técnicos, gerou questionamentos sobre a postura atual da gestão municipal. A dúvida levantada por especialistas e entidades é direta: diante de um estudo técnico produzido por profissionais que o próprio Município buscou no passado, a Prefeitura pretende negar o conteúdo e rejeitar a proposta de aprimorar sua metodologia?
Mahdi Motagh e Magdalena Vassileva são reconhecidos internacionalmente por sua atuação no estudo de subsidência e análises geotécnicas avançadas. Motagh é considerado uma das maiores autoridades do mundo no tema e foi a referência consultada pela Prefeitura durante o episódio da mina 18, quando as tensões sobre o risco de colapso aumentaram.
O relatório independente ganhou ainda mais força porque, na reunião da última quarta-feira, técnicos da Defesa Civil de Maceió, da Defesa Civil Nacional e da Braskem reconheceram – em gravação – que o parâmetro de 5 mm por ano usado como critério de segurança não tem validação científica. O representante da Defesa Civil Nacional afirmou que poderia ser “2, 3 ou 5 mm”, já que não existe uma métrica consolidada, e admitiu que o valor adotado é arbitrário.
No mesmo encontro, houve reconhecimento do nexo causal entre a subsidência, os movimentos observados na região dos Flexais e a mineração de sal-gema. O apontamento reforça a necessidade de rigor técnico, transparência e atualização da metodologia de monitoramento.
Diante desse cenário, pesquisadores, lideranças comunitárias e entidades de controle defendem que o momento pede humildade institucional e abertura ao diálogo científico. Para eles, é hora de unir forças, revisar procedimentos e priorizar o bem-estar das famílias que seguem vivendo os efeitos do crime ambiental da Braskem.
