A selvageria da rebelião que deixou ao menos 60 detidos mortos – decapitados e mutilados – no Compaj (Complexo Penitenciário Anísio Jobim), em Manaus, foi notícia no mundo inteiro. A razão do motim, que começou na noite do domingo (1°), foi a disputa entre duas facções rivais (Família do Norte e Primeiro Comando da Capital) pelo comando do tráfico de drogas na região. As críticas ao sistema penitenciário brasileiro são uma constante nos textos dos jornais estrangeiros.
A reportagem do jornal italiano La Reppublica, assinada pelo correspondente Daniele Mastrogiacomo, começa descrevendo como se iniciou a rebelião “no coração da floresta amazônica”: “Alguns presos dominaram os guardas nos corredores e os amarraram. Outros reviraram as celas e o refeitório, pegando todas as armas que podiam encontrar: pistolas, fuzis, facas, pás e barras de ferro”. E completa: “Foram 17 horas de horror e violência”.
Segundo a publicação, o presídio, o maior de Manaus, é considerado um dos mais duros do Brasil. “As condições de vida dos presos são desumanas”, escreve.
O jornal francês Le Monde diz que, durante as negociações, os prisioneiros não exigiram praticamente nada, “apenas que não houvesse excesso por parte da polícia quando entrasse no local”. “Achamos que eles já tinham conseguido o que eles queriam, matar os membros da organização rival”, disse Sergio Fontes, secretário de Segurança Pública do Amazonas.
Segundo o diário, “as rebeliões são frequentes nas prisões do Brasil, cuja superlotação é regularmente denunciada por organizações de defesa dos direitos humanos”.
Já o texto do diário inglês The Guardian destaca que um vídeo publicado no site do jornal brasileiro “Em Tempo” mostra dezenas de cadáveres sangrentos e mutilados, amontoados no chão da prisão. O artigo classifica as condições nos presídios brasileiros de “terríveis”.
“Nunca vi nada parecido”
O New York Times traz a declaração do juiz Luís Carlos Valois, que participou diretamente da negociação com os rebelados. “Nunca vi nada parecido na minha vida. Havia muitos corpos, a maioria desmembrados”, disse. O jornal lembra que o presídio acomodava 1.200 presos, o triplo da sua capacidade.
A reportagem diz que o massacre tem sido comparado ao do Carandiru, em São Paulo, no qual policiais mataram 111 presos. “Uma corte de apelação anulou recentemente a condenação de 73 policiais pela participação no massacre, o que provocou a crítica de grupos pelos direitos humanos”, diz o jornal.
O New York Times lembra ainda que, desde esse episódio, as autoridades brasileiras prometeram acabar com a superlotação e combater as gangues nos presídios. “Mas o aumento das prisões por pequenos delitos relacionados com o tráfico inchou o sistema penitenciário, e rebeliões continuam acontecendo em todo o país.”
Fonte: RFI