O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, afirmou nesta segunda-feira (2), durante palestra na Universidade de São Paulo (USP), que o comportamento da inflação, de uma forma geral, permanece “bastante favorável” e indicou que, por conta disso, o processo de corte de juros deve ter continuidade.
Atualmente, os juros básicos da economia estão em 8,25% ao ano, após oito cortes consecutivos. Os juros recuam ao menor nível desde julho de 2013, ou seja, em pouco mais de quatro anos.
Em termos reais, ou seja, após o abatimento da inflação estimada para os próximos 12 meses, Goldfajn informou que os juros estão em 3,1% ao ano, um patamar “baixo do ponto de vista histórico brasileiro e tende a estimular a economia”, disse Goldfajn.
Inflação sob controle
Segundo ele, as projeções do BC indicam uma inflação sob controle, situando-se em 3,2% neste ano e em 4,3% em 2018, tendo por base o IPCA, a inflação oficial. Esse cenário, observou ele, supõe trajetória de juros que encerra 2017 em 7% ao ano e se mantém nesse patamar ao longo de 2018.
“Para a próxima reunião [do Copom, no fim de outubro], caso o cenário básico evolua conforme esperado, e em razão do estágio do ciclo de flexibilização, o comitê vê, neste momento, como adequada uma redução moderada na magnitude de flexibilização monetária [corte de juros]”, acrescentou.
O mercado financeiro já estima uma redução menor nos juros, de 0,75 ponto percentual no fim deste mês, de 8,25% para 7,5% ao ano.
A definição da taxa de juros pelo BC tem como foco o cumprimento da meta de inflação, fixada todos os anos pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Para 2017 e para 2018, a meta central de inflação é de 4,5%, com intervalo de tolerância de dois pontos percentuais, de modo que o IPCA pode variar sem que o objetivo seja formalmente descumprido.
Alta do consumo
Ainda de acordo com Goldfajn, o crescimento do consumo tem sido um dos causadores da retomada da economia.
“A rápida queda da inflação elevou o poder de compra da população e ajuda a explicar essa recuperação via consumo. Esse é um movimento calcado em bases mais sólidas que no passado, pois baseia-se num aumento provavelmente permanente de renda e na redução do endividamento das famílias ocorrido nos últimos dois anos”, afirmou ele.
Segundo o presidente do BC, o ganho de poder de compra “se evidencia claramente na parcela da população que recebe o salário mínimo”.
Ele afirmou que, em agosto de 2016 após usar o salário mínimo, então em R$ 880, para comprar uma cesta básica em São Paulo, que custava R$ 695 segundo levantamento do Procon, restavam R$ 185. Em agosto deste ano, disse ele, restam R$ 294, um aumento de 55% após descontada a inflação do período.
“Dessa forma, após dois anos de recessão, causada pelos excessos cometidos no passado, destaco que o cenário econômico de recuperação da economia que vivemos deve-se também à reorientação da política econômica e à determinação da política monetária na queda da inflação”, afirmou.