Desde o último julgamento, o ex-presidente Da Silva viva entre o céu e o inferno. Deram-lhe o inferno Dantesco ou astral. Não sei se ele sabe até aonde vai o inferno Dantesco (ou o que é isso), bem como não sei até onde ele acredita no inferno astral (vai que ele não dê valor aos signos). Só sei que usaram das artimanhas dos incisos e parágrafos e condenaram o rapaz por conta de um triplex que vivia assombrando o seu castelo de hombridade. Além do mais, cassaram os nove anos que seria o tempo para ele ver o Sol nascer quadrado, e alavancaram o período por mais três.
A história que começou nos tempos em que a carochinha ainda dominava as histórias infantis, desde quando o arco-íris era preto e branco e o Cão era menino, integrou nos autos dos processos certezas que a justiça elevou ao grau máximo de um processo que fez o país parar. Saiu ao gosto dos seus inimigos. E quem se atreveu a derrubar o véu que cobria a carapuça do mito que “mudou” a feição do país, venceu em segunda instância.
Sabemos que a contagem regressiva para o desencadeamento da pena é tão sólida como um castelo de areia. Daqui pra frente valha-nos a santidade da mesa branca para que o caminho a ser seguido tome a originalidade do cumprimento. Não que seja isso que apenas se deseja. O maior enfrentamento que o rapaz tem no momento, talvez seja o sortilégio que vez em quando ainda tentar impor, como uma defesa indefensável.
Entre o céu e o inferno não existe uma bifurcação. Só a escolha, que nem sempre é própria, pode dizer aonde se vai chegar. De qualquer forma, ambos possuem seu lado bom e pessimamente imaginável. É de se acha que o céu pode ter quartos mais confortáveis (um triplex?), com cama aconchegante, sala, cozinha, playground, TV de tela plana, essas parafernálias que os espíritas pensam que existem para o aconchego das boas almas que ali adentram. Ou pode ser que tudo seja fogo, calor, tridente a cutucar o sujeito, empurrando-o para o calabouço onde a cama seja o mármore do inferno e a casa um espetáculo de perfeição a maneira de sufocar a alma penada até a sua segunda morte (se é que existe).
Não sabemos ao certo. A certeza é que a condenação possuiu o mecanismo que a justiça procurou, catou e colheu entre as leis que foram afetadas. Há quem não acredite nisso, como não acreditar nem em céu, muito menos em inferno. Há, também, que acredite que o inferno do Da Silva já seja aqui. O problema é: e se ele encontrar outro pior depois que bater a “caçulêta”?
A saber, a verdade foi colocada em panos alvejados pelo detergente que a justiça sempre usa nesses casos: as provas. Se elas foram refutadas como deveriam, não sabemos, não vamos julgar e isso é uma decisão jurídica. Agora, que uma parcela da população acha que Da Silva não deveria ter com o tinhonso logo agora, frente à porta de uma eleição presidencial, isso com certeza pesou para se ter a plena certeza de que tudo foi armação. E se foi, ou não, também não vamos julgar. O veredicto está na última folha do processo e essa não há de se arrancar com argumentos banais a provar o que jamais será provado. É o custo para se tornar mito. Quem não leu, atenha-se ao que aconteceu com Empédocles, de Hölderlin.