Ricardo Albacete culpou a controladora de voo Yaneth Molina, do aeroporto de Rionegro, na Colômbia, pela queda do avião que levava a delegação da Chapecoense para final da Copa Sul-Americana em novembro de 2016, que deixou 71 mortos. O empresário venezuelano é dono da companhia aérea LaMia, que decretou falência em 2017.
A declaração aconteceu durante uma sessão da CPI que que acompanha a situação das vítimas e familiares do acidente, em Brasília.
– Infelizmente a tripulação não insistiu com o controle aéreo e não declarou emergência de antemão. Seguiu fazendo minutos de espera. O outro avião também tinha pedido prioridade, mas não era emergência. O piloto da LaMia sabia a altura da aeronave, mas não sabia onde estava em relação à pista. O que ele fez? Procurou a pista, mas não tinha mais potência. A senhora Molina os matou – disse Albacete.
O voo 2933 da LaMia saiu de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, para Medellín, na Colômbia. Perto do desembarque, o piloto declarou emergência por falta de combustível. O avião perdeu contato com a torre de comando quando sobrevoava as cidades de La Ceja e Aberrojal, à 0h33 de Brasília, e a queda ocorreu à 1h15 no Cerro El Gordo – segundo informações do aeroporto de Medellín.
Ricardo Albacete reconheceu que a aeronave voava com pouco combustível, como já ficou comprovado pela perícia, mas de acordo com ele o avião tinha autonomia para chegar ao destino final.
– Havia pouco combustível. Infelizmente, eles não seguiam as regras aí. Os tripulantes foram intrépidos, audazes. Nesse dia, infelizmente, eu os considero como idiotas. Mas esse avião, quando estava a 16 mil pés de altitude poderia chegar, passar por cima da pista e dar uma volta de reconhecimento de voo. Infelizmente, a senhora Yaneth Molina os mandou para as montanhas.
Seguro aos familiares
A CPI foi criada para que as indenizações das seguradoras sejam pagas aos familiares das vítimas. A tese de advogados envolvidos no caso é de que os principais responsáveis pela tragédia e pelas indenizações seriam a LaMia, companhia responsável pelo voo; seus proprietários (Ricardo Albacete e o sócio Marco Antonio Rocha Venegas); os órgãos nacionais de aviação da Bolívia (Dirección General de Aeronáutica Civil – DGAC) e da Colômbia (Aerocivil); e também as empresas que cuidaram do seguro da aeronave.
Para Albacete, a LaMia não descumpriu nenhuma cláusula do contrato de seguro que pudesse vetar o desembarque na Colômbia e afirmou que as autoridades aeronáuticas da Colômbia, Venezuela, Brasil, Bolívia, Paraguai e Argentina autorizaram que a companhia aérea realizasse voos sobre a região.
– Você não pode fazer o contrato de um voo charter em nenhum país da América Latina sem que a autoridade aeronáutica aprove e revise o contrato. Naquele momento, a aeronáutica do Brasil revisou o contrato da Chapecoense? Acredito que não. A Anac [Agência Nacional de Aviação Civil] não avisou que a Chapecoense não poderia ir à Colômbia. Ninguém se deu conta disso. Todos participaram do erro.
No mês passado, o Ministério Público Federal ajuizou uma ação com pedido de indenização para os familiares das vítimas. O valor pedido pelo órgão é de US$ 300 milhões. O seguro da aeronave era de US$ 25 milhões (cerca de R$ 104 milhões), na época do acidente, mas os advogados das famílias contestam. Eles dizem que, até 2015, a apólice era de US$ 300 milhões (R$ 1,24 bilhão) e, a partir de 2016, mesmo com o risco ampliado por passar a transportar atletas de clubes de futebol, a apólice caiu de valor.
Albacete admitiu que o contrato da seguradora era de R$ 300 milhões, mas que duas parcelas não foram pagas. O empresário reconheceu que não leu a documentação após a filha dele, Loredana Albacete, negociar com a empresa AON, uma apólice nova, de seis meses, com menor valor (R$ 25 milhões).
– Sim, eu falhei. Eu falhei não porque li e não entendi, mas porque não li. Eu estava totalmente chateado, estava cheio de coisas. Eu não quis saber de nada. Minha filha de forma respeitosa me mandava as cópias. Mas eu mandava para o arquivo porque para mim é muito trabalho. Eu nunca teria aceitado menos de US$ 300 milhões. Nunca, jamais.
Ele justifica que apesar da falta de pagamento, das duas parcelas, o seguro de R$ 300 milhões estava em vigor. Albacete ainda citou que a rede de seguradoras são uma máfia que não se importa com a dor das pessoas.
– Quando houve o acidente, o seguro estava vigente. Não foi pago? Bom, não foi pago. É uma dívida. Aqui tem muitos culpados. Entre eles, eu. Porque eu lamentavelmente sou o pai dessa criatura que começou na Venezuela e terminou com toda a dor da minha alma. Mas o seguro é quem paga. Para isso tem o seguro. O seguro é feito para que? Para roubar o dinheiro das pessoas?
GE