A mudança de tom do presidente Jair Bolsonaro em pronunciamento na noite desta terça-feira (31) sobre a crise do coronavírus foi recebida com alívio e discreta comemoração em vários setores do governo.
A percepção é a de que a nova posição de Bolsonaro, que dessa vez não criticou o isolamento social como forma de conter a pandemia, foi recebida como um sinal verde para a manutenção das orientações técnicas do Ministério da Saúde e das ações do Ministério da Economia para garantir recursos para as pessoas ficarem em casa.
Mesmo assim, na manhã desta quarta-feira (1º), auxiliares ficaram em alerta com publicação de Bolsonaro nas redes sociais. Isso porque ele voltou a subir o tom contra governadores e prefeitos.
O presidente publicou um vídeo de um homem que apontava o desabastecimento em uma unidade da Ceasa em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, dizendo que “a culpa é dos governadores”.
“Não é um desentendimento entre o Presidente e ALGUNS governadores e ALGUNS prefeitos. São fatos e realidades que devem ser mostradas. Depois da destruição não interessa mostrar culpados”, escreveu Bolsonaro na publicação.
Porém, não há desabastecimento na central, conforme imagens registradas pela TV Globo nesta quarta e nota enviada pela própria Ceasa.
Era consenso dentro do governo que a postura anterior de Bolsonaro – que chegou a pedir a “volta à normalidade” e o fim do “confinamento em massa” – ficou insustentável depois que até o presidente americano Donald Trump mudou o tom do discurso em relação à pandemia.
No último domingo (29), Trump reconheceu a gravidade da pandemia e ampliou o prazo da quarentena nos Estados Unidos para 30 de abril.
Auxiliares mais próximos de Bolsonaro, principalmente da chamada ala militar, já estavam em alerta com a posição solitária do presidente ainda mais evidente na semana passada.
Até porque, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e as principais lideranças do Congresso Nacional tinham reforçado o discurso de seguir as recomendações da ciência e dos organismos internacionais de saúde.
A posição firme de ministros da ala militar do governo e de conselheiros jurídicos do presidente foi considerada fundamental para isolar a “ala ideológica” do governo, que tinha influenciado o pronunciamento anterior.
A expectativa desse grupo mais ideológico era a de que Trump fosse flexibilizar o isolamento nos Estados Unidos, o que não aconteceu.
“O presidente estava sozinho numa posição que ia na contramão do mundo. Isso já estava criando uma grande frustração da própria equipe. Por isso, essa mudança é bem-vinda”, disse um ministro ao blog.
Houve grande desconforto entre os principais ministros, não só com o pronunciamento de Bolsonaro na semana passada, mas também com o passeio dado por ele no domingo em cidades satélite de Brasília.
Nas ruas, a presença do presidente provocou pequenas aglomerações, indo na contramão da orientação do Ministério da Saúde e da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Nesta terça, depois do novo pronunciamento, auxiliares de Bolsonaro fizeram questão de reforçar e blindar de imediato essa nova posição.
Nas redes sociais, o ministro da Justiça, Sergio Moro, parabenizou o presidente pelo pronunciamento. Moro considerou a fala conciliadora, ao tratar do isolamento social e de medidas de proteção a empresas, renda e ao emprego e de ampliação da estrutura de saúde.
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, postou o vídeo do pronunciamento de Bolsonaro e escreveu que juntos venceremos a luta contra o coronavírus. A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, chamou a fala de Bolsonaro de “fantástica” e disse que o presidente pediu unidade na luta contra o vírus.
G1