O médico e ex-funcionário da Prevent Senior Walter Correa de Souza Neto afirmou à CPI da Covid, nesta quinta-feira (7), que a operadora de planos de saúde adotava cuidados paliativos para os pacientes como algo “cultural” para gerenciar recursos – ou seja, economizar dinheiro.
O termo “cuidados paliativos” abrange uma série de condutas e tratamentos para pacientes com doenças sem possibilidade de cura. O objetivo é melhorar a qualidade de vida do paciente e diminuir o sofrimento causado pela enfermidade.
Correa trabalhou na Prevent Senior ao longo de oito anos, até fevereiro de 2021. Segundo ele, as medidas paliativas eram indicadas na Prevent sem necessidade – para pacientes que ainda podiam se beneficiar do tratamento regular.
O médico descreveu à CPI um caso em que, por pouco, uma paciente de quase 90 anos não foi transferida para o protocolo de cuidados paliativos sem necessidade. Segundo ele, a cultura da empresa era no sentido de que “já estava na hora, já é idoso” (veja detalhes abaixo).
“Às vezes, pela gerência de recursos, que é extremamente rígida e com essa hierarquia rígida, isso muitas vezes induz o médico ao erro. Então, o médico está julgando que algum paciente não é viável, muitas vezes, na verdade, ele poderia ser viável. É um erro que às vezes a gente via acontecer com uma certa frequência dentro da Prevent. Nem sempre intencional, mas a cultura provoca isso”, afirmou.
Nesta quinta, a CPI também ouviu o depoimento de Tadeu Frederico, paciente da Prevent que acusa a operadora de usar o prontuário de outra paciente para convencer sua família a tirá-lo da UTI e iniciar o protocolo de cuidados paliativos.
Aos senadores, Walter Correa Neto detalhou como se dava a abordagem.
“Muitas vezes, no pronto atendimento, quando estava internando um paciente, já era pressionado por aquele médico que era o ‘guardião’, o chefe do plantão: ‘E aí, você já paliou esse paciente?’, ‘Eu não acho que ele é viável. Não vai pedir UTI, enfermaria. Nós já vamos paliar, conversa com a família e já coloca ele no paliativo’. Então, você era pressionado para fazer esse tipo de coisa porque essa era uma forma de gerir os recursos”, contou.
Idosa de 90 anos
Para ilustrar as acusações, o médico narrou aos senadores da CPI um caso em que uma paciente de quase 90 anos – em uma “condição mais grave”, mas em um “estado geral bom” – por pouco não foi submetida aos cuidados paliativos.
“Ela precisava fazer um procedimento relativamente simples, era uma infecção urinária, estava numa sepse de foco urinário e precisava passar um acesso central para passar uma droga vasoativa. Ela era muito idosa, realmente os exames não eram muito bons. Dependendo do ponto de vista, você podia olhar e achar que ela tivesse um mau prognóstico pela idade – e ela não tinha muitas comorbidades. Então, eu peço a internação dessa paciente e a minha intenção inicialmente era pedir a UTI para que fossem feitas essas medidas”, contou.
Segundo ele, quando a idosa foi para a internação, os chamados “guardiões”, que são os chefes de plantão, “julgaram a decisão”.
“Estavam com uma observação lotada, uma medicina de guerra onde o que importa é mais a gestão de recursos e não o paciente. Onde a cultura da empresa tem uma leniência muito grande com esse tipo de coisa. Se você paliar, é meio que ‘Você paliou, já estava na hora, já é idoso’. E eles queriam paliar essa paciente”, continuou contando.
Segundo ele, o tratamento acabou não acontecendo porque a família o procurou pedindo ajuda. “Eu falei: ‘Não aceita, diz que quer que faça tudo’”. Ela voltou, conversou com os colegas e eles passaram o acesso central, começaram com uma droga vasoativa de antibiótico”.
A paciente, segundo o médico, teve boa resposta ao tratamento e deixou o hospital três dias depois. “Se a [família da] paciente não volta e não conversa comigo, ela quase teria o destino que quase o senhor Tadeu teve. E essas coisas eram relativamente comuns, essas pressões”, afirmou.
O que diz a Prevent
A Prevent Senior divulgou duas notas no início da tarde desta quinta – uma sobre as declarações do médico Walter Correa Neto, e outra sobre a acusação de troca de prontuários feita pelo paciente Tadeu Frederico.
Leia abaixo os posicionamentos:
Sobre o depoimento de Tadeu Frederico
A Prevent Senior refuta ter iniciado tratamento paliativo ao paciente Tadeu Frederico de Andrade sem autorização da família. Já tornado público via imprensa, o prontuário do paciente é taxativo: uma médica sugeriu, dada a piora do paciente, a adoção de cuidados paliativos. Conversou com uma de suas filhas por volta de meio-dia do dia 30 de janeiro. No entanto, ele não foi iniciado, por discordância da família, diferentemente do que o sr. Tadeu afirmou à CPI. Frise-se: a médica fez uma sugestão, não determinação. O paciente recebeu e continua recebendo todo o suporte necessário para superar a doença e sequelas.
Sobre o depoimento de Walter Correa Neto
O depoimento do médico Walter Correa Neto não trouxe fatos, apenas narrativas mentirosas. Mais uma vez, a Prevent Senior nega e repudia as acusações infundadas levadas à CPI da Covid e à imprensa com base em mensagens editadas, truncadas ou tiradas de contexto. O médico faz parte de um grupo que tentou firmar acordos milionários com a operadora para que a advogada Bruna Morato não levasse as acusações à CPI.
A denúncia mais grave é sugerir que os médicos da empresa optem pela adoção de cuidados paliativos para matar pacientes e economizar recursos, o que tanto os médicos quanto a direção da empresa veementemente contestam.
A Prevent defende e vai colaborar para que órgãos técnicos, como o Ministério Público, investiguem todas estas acusações para restabelecer a verdade dos fatos. Lamentavelmente, aos moldes do que aconteceu nos piores tempos da Operação Lava Jato, atacou-se a reputação da empresa antes do esclarecimento de todos os fatos.
G1