Da Redação
Os problemas na gestão do Hospital Veredas não atingem somente os funcionários, mas também os pacientes e seus acompanhantes. Nesta quinta-feira (12), um grupo de mulheres que possuem filhos dependendo dos serviços da oncologia pediátrica da instituição promoveu um protesto.
A Folha se deslocou ao local para ouvir essas mães, que denunciam o caos estrutural na área de tratamento de câncer para crianças e adolescentes. Anteriormente, elas já haviam procurado a reportagem e enviado fotos, áudios, vídeos e depoimentos a respeito da situação. Segundo as mães, o descaso vem ocorrendo há dois anos.
Marcela Bento, mãe de Maria Eloísa, 4 anos, vem do interior duas vezes por semana por meio do transporte disponibilizado pelo município e disse que não sabe a quem recorrer diante do cenário de pouco-caso. Relatou também que funcionários de outros setores vêm cobrir a carência da oncologia, mesmo sem estarem acostumados.
“No começo, tínhamos toda a assistência, mas aí começaram a aparecer os problemas como: falta de medicação, de quimioterapia, de agulha para procedimentos. Os funcionários por falta de pagamento fazendo protesto e a médica pediu demissão. Ela [filha] está por supervisão de outro médico”, desabafou Marcela.
De Olho d´Água das Flores, Alessandra da Silva se desloca com a filha, Karen, para o Veredas duas ou três vezes por mês. Segundo ela, a falta de medicação já aconteceu algumas vezes e as mães tiveram que procurar o Ministério Público para conseguir o direito de fazer a quimioterapia e o tratamento.
“Gostaria que o Veredas olhasse com mais amor e carinho para os profissionais, que também precisam ser reconhecidos, receber seu salário, e também precisamos de medicação. A minha maior dificuldade é a tristeza de saber que os médicos estão saindo por falta de pagamento e minha filha sem apoio, ela que precisa desses médicos”, contou Alessandra.
A saída da médica responsável pelas crianças também é citada por Edjane da Silva, a qual reforçou que o hospital não dá explicações e a manifestação é para tentar resolver a situação dos “nossos pequenos”.
“Nós somos mães de pacientes com câncer, leucemia. E estamos aqui na luta. O ambiente da pediatria está um caos, as paredes mofadas, sem reboco. Você entra e dá vontade de vomitar, aquele fedor em um ambiente que tratam crianças com câncer”, discorre Edjane.
Mãe de um menino de 4 anos, Itala Camila acionou a Justiça por causa da falta de remédios. Ela conta que o descaso no Veredas é um absurdo, pois as crianças sequer têm um colchão adequado para se deitar, além de ser apenas um banheiro para todo mundo.
“Dois meses atrás entrei na Justiça por falta de medicamento. Não existe nenhum posicionamento do hospital, eles só diziam que deveríamos aguardar, só que essa doença, ela não pode aguardar. Ela é muito agressiva, ele [filho] tem leucemia”, contou Itala.
De acordo com as mulheres, o médico especialista no tratamento de leucemia também pediu demissão, devido à falta de pagamentos. Para elas, o sentimento é de medo e angústia a todo instante. “Nossos filhos estão morrendo”, colocaram.
“Não estamos aqui para prejudicar ninguém. A gente quer o direito da gente, dos nossos filhos. Estamos falando em prol deles. O direito que a gente tem como cidadãos que pagam impostos. Nós estamos desamparados”, disse outra mãe.
Procurada pela reportagem
Durante vários dias a reportagem da Folha de Alagoas procurou a assessoria de comunicação para se posicionar sobre esse e outros casos. Mas o silêncio da instituição de “saúde” é recorrente. A Folha de Alagoas deixa clara sua posição diante das tentativas de silenciar a imprensa livre.
Outros depoimentos
Mais mães pediram ajuda da Folha para relatar o cenário vivido no Veredas. A pedido, os nomes dessas mulheres serão preservados. A oncopediatria do Veredas, de acordo com o site do hospital, foi inaugurada em 2003.
A primeira mãe contou que seu filho tinha o plano Unimed, pago pelo pai, mas que, após um tempo, não teve condições de seguir com a cobertura. Pouco depois do corte do plano, o casal descobriu que o filho estava com leucemia e iniciou, através do Sistema Único de Saúde (SUS), o tratamento no Veredas, onde ela relata que encontrou um difícil cenário.
“Eu, como mãe, sofri muito com meu filho lá. Ele não se alimentava porque para a gente já não é fácil, imagine para uma criança fazendo quimioterapia comer esse tipo de alimento. A cada mês foi piorando e hoje está o caos que está. Espero sinceramente que façam alguma coisa, porque os meninos não merecem estar nessa situação”, afirmou.
A segunda mulher ouvida proferiu palavras mais duras, pois, segundo ela, o quadro é revoltante. “O hospital está imundo e sem estrutura, ainda mais para pacientes que fazem quimioterapia e tem queda na imunidade”, desabafou.
Outra mãe citou que o Veredas por dentro é muito diferente do que a população observa por fora, com a fachada, luzes e jardim bonitos, relatando ainda sobre as condições insalubres dos banheiros da oncologia, embora as “meninas da limpeza”, segundo ela, tentem deixá-los limpos.
“Muitas vezes não tem papel higiênico, sabonete para lavar as mãos, álcool em gel, nada tem, tudo em falta. É um caos. Tem dias até que não tem sequer lençol para muda, porque os meninos acabam fazendo xixi, vomitando e ficam sem lençol lá. Isso sem contar para o acompanhante ou forrar as cadeiras, que são disputadas e reversadas pelas famílias porque a maioria está quebrada”, disse.
A quarta fonte ouvida pela Folha destacou que a promessa dos gestores era reformar a área em 2020, com a transferência das crianças para outro andar, contudo, com a pandemia, houve a criação de leitos para Covid e cancelaram o início das obras.
“De lá para cá, ninguém sabe de fato se saiu essa verba, mas o que se sabe é que não foi feito nada”, completou.